Jefferson Rudy/Agência Senado
Se a última semana da CPI da Covid foi tumultuada – com o depoimento do líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) –, as próximas sessões podem manter a temperatura em ebulição. Os três depoimentos da semana ainda precisam ser conformados. Para quarta-feira (18), está prevista uma potencialmente explosiva acareação entre o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), que em 25 de junho denunciou o suposto caso de corrupção no Ministério da Saúde que ficou conhecido como “escândalo da Covaxin”, ao qual vinculou o líder governista. Onyx acusou Miranda de se basear em documento falso.
O governo Bolsonaro acabou cancelando o negócio. A tentativa de compra da vacina Covaxin foi intermediada pela empresa Precisa Medicamentos e envolvia uma série de irregularidades. A cúpula da CPI considera uma das maiores vitórias da comissão o fato de ter barrado o desfecho do negócio.
Na quinta-feira (19), os senadores pretendem ouvir justamente o empresário Francisco Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos. O empresário vem driblando a comissão e até hoje não depôs. Também conseguiu no Supremo Tribunal Federal um habeas corpus para não responder perguntas que possam incriminá-lo.
A Precisa falava em nome da fabricante da Covaxin, a Bharat Biotech, para fechar o contrato suspeito de R$ 1,6 bilhão por 20 milhões de doses da vacina indiana. O negócio previa a compra de 300 mil doses por US$ 45 milhões a serem pagos antecipadamente. Cada dose custaria R$ 80, R$ 24 a mais do que o preço da Pfizer, que o governo boicotou sistematicamente. A CPI da Covid investiga possíveis vínculos de Ricardo Barros com a Precisa.
1 a 0 para Ricardo Barros
Oposição e independentes não mostraram preparação tecnicamente capaz de desmontar a série de ardis e negativas do deputado. Ele foi acusado de mentir, a CPI apontou muitas coincidências, como o suposto elo entre Barros e Precisa, mas não comprovou cabalmente com documentos. Barros acusou a comissão de afastar “muitas empresas interessadas em vender vacinas ao Brasil” e provocou indignação, já que é notório que o governo sabotou as vacinas, principalmente Pfizer e CoronaVac.
Atendendo a questão de ordem de Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que propôs o encerramento e nova oitiva com Barros, como convocado, e não mais convidado, o presidente Omar Aziz (PSD-AM) encerrou a sessão. Com dados ainda não disponíveis dos sigilos de Barros quebrados, a CPI deve conseguir avançar com o líder do governo. A data do novo depoimento não foi marcada.
Interesse governista
A sessão de terça-feira (17) deverá ser a mais “tranquila” da semana, com a oitiva do ex-secretário da Saúde do Distrito Federal Francisco Araújo, preso no ano passado por suposto envolvimento em desvios de milhões de reais destinados ao combate à pandemia. Essa oitiva é do interesse de governistas. O requerimento para esse depoimento é do senador Eduardo Girão (Podemos-CE).
A sessão de terça pode contar ainda com o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva. Depende de conversas da cúpula. Costa Silva é acusado de fazer um “estudo paralelo” apontando uma supernotificação das mortes pela covid-19 no país. O auditor é amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.