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A guerra que vem por aí

Dez 29, 2021

Por Moises Mendes, no DCM                                                                                                                               

                                                                                   Foto: Tânia Rego/Agência Brasil                                                                                                                                             

Quem pouco ou muito guerreou na vida, em lutas cotidianas por ideias, emprego, comida, sonhos, amores, amigos e parentes, terá batalhas inéditas em 2022. Teremos a chance, oferecida pela democracia, de resgate de quase tudo o que perdemos nos últimos anos.

Muitos têm escrito nas redes sociais que 2022 precisa ser o ano dos reencontros, em todos os sentidos. É um desejo, uma torcida, que antes terá de passar por grandes desafios.

Será o ano em que o poder das instituições será testado como nunca desde a ditadura. Qual é a real capacidade de resistência do Supremo diante do avanço do fascismo?

Quem acredita mesmo que as sete dezenas de pedidos de indiciamento da CPI resultarão em alguma providência efetiva, com a punição dos criminosos das facções da cloroquina e das vacinas?

É possível que o Judiciário enquadre generais e coronéis apontados por omissão ou por envolvimento em desmandos com as quadrilhas da pandemia?

O Brasil terá de dizer em 2022 se tem coragem para retomar as investigações da CPI das fake news num ano eleitoral. E se a Justiça será capaz de conter as negociatas com as emendas secretas do Congresso.

2022 testará a submissão de pobres e miseráveis ao mais dramático quadro de degradação da vida em todos os tempos. Até quando a pobreza ficará desamparada e inerte, se nos países ao redor os pobres sempre reagem e afrontam o poder que os explora?

As tentativas de reencontros se darão em ambientes tensionados. Arrependidos por terem ajudado a eleger um governo autoritário e negacionista tentarão fazer o delicado caminho de volta.

2002 deve ser o ano do acolhimento, da compreensão, da aceitação dos erros, os nossos e os dos outros. É difícil, mas não há outra saída, ou conviveremos para sempre com a possibilidade de novos rompimentos.

É nesse ambiente em que se dissemina a notícia de que Bolsonaro defende o armamentismo porque um dia o Brasil imitará Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela e terá grupos paramilitares alinhados à extrema direita.

Este será o ano em que as novas gerações do final do século 20 e deste início de século 21 experimentarão algo que só os mais maduros conhecem. A propagação pelo fascismo de que a ameaça agora é de novo o comunismo.

O alerta sobre o comunismo passa a ser a farsa retórica preferida do reacionarismo brasileiro. Ameaçam com os comunistas, enquanto o país vê na TV o aumento das filas do osso.

Enquanto pais erguem cartazes desesperados nas sinaleiras e mães não vacinam os filhos, tomadas pela resignação dos manipulados pelos fundamentalismos político e religioso.

A democracia que permitiu o surgimento de Bolsonaro poderá se livrar dele, para que não tenhamos nunca mais um presidente sabotador da ciência e da vacinação, que agride as instituições e passeia de barco enquanto a Bahia chora seus mortos.

2022 será o que quisermos que ele de fato seja. Que seja um ano de mais envolvimento com nossos destinos e de menos desculpas e omissões.

 

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