Para entender como as coisas funcionam no Brasil, basta imaginar situações hipotéticas de sinal invertido envolvendo o PT.
Vamos supor que as reportagens da jornalista Patrícia Campos Melo, do jornal Folha de São Paulo, em 2018, contendo fartas denúncias e riqueza de provas sobre uma máquina de calúnias, injúrias e difamações, com financiamento criminoso de empresários, não se referissem à campanha de Bolsonaro, mas sim à de Haddad?
Alguém tem dúvida de que a chapa Haddad-Manuela seria cassada, quem sabe ainda durante a campanha, ou logo em seguida, e caso vencesse, seria impedida de tomar posse?
Como quem foi pego com a boca na botija foi um candidato do campo conservador, em sua versão fascista, é verdade, o julgamento do caso acabou empurrado para as calendas, só acontecendo quando o mandato de Bolsonaro já completara três anos.
Mais patético ainda foram as inacreditáveis “reprimendas” à campanha de Bolsonaro feitas por suas excelências os juízes do Tribunal Superior Eleitoral em seus votos. Deixando de lado o juridiquês, alguns deles disseram: “Desta vez passa, mas na próxima vamos punir as fake news com rigor.”
De minha parte, tenho sérias desconfianças de que o TSE seja tomado por um surto de determinação e coragem suficiente para coibir a disseminação de fake news nas eleições deste ano.
A engrenagem bolsonarista voltada para esparramar lama nas redes sociais segue em plena operação, a despeito dos inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes e de algumas prisões de militantes movidos a ódio.
A banda democrática da sociedade quer saber é quais foram as providencias efetivas tomadas pela justiça eleitoral para mapear, monitorar, identificar e punir as fake news durante a campanha de outubro. Por acaso o tribunal criou uma estrutura de inteligência com essa finalidade?
Até agora, a nove meses da eleição, o eleitorado não foi informado a respeito. Infelizmente, o mais provável é que o enfrentamento das fake news por parte do TSE se limite, como em eleições anteriores, a discursos empolados e pretensamente indignados de seus ministros. Tudo com pouca ou nenhuma consequência prática.
Como a bandidagem nas redes está no DNA do bolsonarismo, aos democratas só restará travar uma guerra virtual sem tréguas contra a esgotosfera.