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Alguns estudiosos do campo progressista costumam ter dificuldades para estabelecer conexões concretas entre o nazismo e o bolsonarismo. Em geral, apontam diferenças de contextos históricos e relacionadas ao caráter explícito da doutrina nazista, centrada na defesa da supremacia racial, na violência e na eliminação de adversários políticos.
Vale assinalar também que, se por um lado o ideário nazista, com suas formulações e métodos, seja produto de um pensamento político totalitário e racista pronto e acabado, por outro, o bolsonarismo reúne de forma esparsa e difusa a estupidez, o ressentimento, o preconceito contra pobres, negros e população LGTBQIA+, a misoginia, o fundamentalismo religioso, o negacionismo e o culto à burrice.
Isto posto, como não sou cientista social, entro na seara da observação empírica da realidade e dos acontecimentos políticos. Quando gente ligada ao governo, parlamentares, influenciadores digitais e comentaristas políticos são flagrados em manifestações de cunho nazista, é importante que fique claro que nada disso se deve ao acaso.
Esse fenômeno nefasto ocorre em um país no qual o governo é inimigo das artes, da ciência e da cultura. Por trás de um biombo pretensamente voltado para uma disputa político-ideológica como tantas outras, o tal combate ao “globalismo cultural”, o bolsonarismo desfralda bandeiras tipicamente nazistas.
Ou alguém duvida que se não fosse pela resistência da sociedade o governo promoveria fogueiras de livros em praça pública, tal qual o Terceiro Reich ?
Ou alguém duvida que livre dos limites impostos pelas instituições da República, Bolsonaro já não teria mandado censurar a céu aberto livros, jornais, sites de informação, filmes e peças teatrais?
Ou alguém duvida que sem o sistema de freios e contrapesos impostos pelo regime democrático já teríamos cientistas, ambientalistas, sindicalistas, jornalistas e militantes e líderes da esquerda democrática presos?
Bolsonaro só não implanta um regime escrachado de trevas e terror porque não pode. No entanto, vive a testar os limites da democracia. Todos se lembram que essas escaramuças autoritárias tiveram seu ápice na tentativa de golpe de 7 de setembro de 2021, que só não se consumou por falta de apoio fardado.
A forma desumana como Bolsonaro tratou a maior crise sanitária em 100 anos, a pandemia do coronavírus, seja dificultando o acesso à vacina, fazendo propaganda de remédios ineficazes ou debochando dos mortos, revela uma psicopatia própria de expoentes do nazifascismo ao longo da história.
Da nossa parte, não pode haver nenhum tipo de complacência com opiniões, gestos ou flertes com o nazismo. Liberdade de expressão não serve de abrigo para defesa de teses que relativizem o caráter criminoso e lesa humanidade do nazismo.
E a situação é preocupante: reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, levado ao ar há algumas semanas, mostrou a proliferação no Brasil de grupos nazistas, supremacistas, xenófobos e racistas pelo país. Gente perigosa e organizada. Cadeia neles.
Em um regime democrático, também quem naturaliza o horror nazista e prega o direito à organização partidária dos que defendem o extermínio de seres humanos devem ser levados aos tribunais.