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Para entender a crise da China

Set 19, 2015

Por Luis Nassif, no Jornal GGN                        

 

 

Historicamente, o desenvolvimento de economias emergentes sempre sofre problemas de descontinuidade.

No início, crescem rapidamente em cima de uma base pequena, devido à incorporação do chamado exército industrial de reserva, em geral proveniente do campo. No início atraem investimentos externos, devido aos baixos salários. Na medida em que cresce o emprego e a renda, forma-se um mercado de consumo, garantindo novos investimentos voltados para o mercado interno.

Os altos índices de crescimento iniciais atraem mais investimentos. Até que a economia atinge um patamar maior e as taxas de crescimento tendem a se estabilizar em níveis de economias maduras.

Há o breque da economia, mas o trem dos investimentos continua a toda, projetando as taxas de crescimento do passado para o futuro.

É nesses momentos que a economia estanca, travada pelos superinvestimentos da fase anterior.

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O desafio chinês é desacelerar de 10% para 7% ao ano de forma controlada.

Aí surgem os problemas apontados por Martin Wolff, do Financial Times, em artigo recente.

1. Dependência do investimento como fonte de oferta e demanda.

O que mede a eficácia do investimento é a chamada "produtividade total dos fatores" (que mede a variação da produção por insumo utilizado). E ela está próxima de zero. Só se aumenta a produtividade com investimento novo.

2. A relação capital sobre produção adicional disparou, enquanto os retornos sobre investimentos despencaram.

3. O crédito já não pode puxar a economia chinesa. O "financiamento social total" (um indicador amplo de crédito) saltou de 120% do PIB em 2008 para 193% em 2014. Logo, a parte do investimento dependente de crédito tende a diminuir.

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4. Os problemas não param por aí. A relação capital sobre produção mantém trajetória explosiva. Para se estabilizar nos níveis atuais, e para manter o crescimento da economia em 6%, a parcela de investimentos precisaria cair em cerca de 10% do PIB. Mas aí o impacto sobre a demanda seria fulminante.

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Trata-se de um xadrez complexo, mesmo para uma burocracia que mostrou notável nível de competência ao longo das últimas décadas.

Para Wolf, o melhor caminho seria continuar com as reformas, aumentando a capacidade de gasto dos consumidores, investindo mais no consumo público e em melhorias ambientais

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 Mas há desafios enormes de ordem econômica e política. A descontinuidade poderá se prolongar e haverá a necessidade de replanejar a economia, com todos esses óbices, sem levá-la ao colapso.

E aí entram os dilemas apontados pelos especialistas desde que a China decidiu tornar-se uma economia de mercado. Nas principais cidades chinesas, vários valores ocidentais começam a se impor. A lógica ocidental, seja entre grupos econômicos e cidadãos, exige um grau de autodeterminação que colide com o poder excessivamente concentrado do Partido Comunista.

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 Mais que isso, a legitimidade dos presidentes chineses esteve calçada nos índices de crescimento garantindo a melhoria do bem-estar geral. A incapacidade do sistema chinês de absorver dissidências, de atenuar conflitos é um fator a mais de instabilidade.

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