Foto: Ruy Baron
A deflagração da operação de guerra da Rússia sobre a Ucrânia, esta semana, pode ter consequências dramáticas para a já combalida economia brasileira. Isso porque o início do grave conflito militar na Europa pressiona os dois principais pilares da inflação no Brasil: petróleo e alimentos.
Após o anúncio de uma operação militar na Ucrânia pelo presidente russo, Vladmir Putin, o preço do barril do petróleo, que já vinha em alta, superou a marca dos 100 dólares pela primeira vez desde setembro de 2014. Nesse cenário de alta, o Brasil não conta com uma política estratégica para a Petrobras enfrentar a questão pelo abandono dos investimentos no refino e em um sistema integrado de produção, distribuição e comercialização, que gerem ganho e competitividade em relação a outras economias.
Nos governos Bolsonaro e Temer, a Petrobras foi desmantelada e opera pela lógica da Política de Preço de Paridade de Importação. Com isso, a cadeia nacional de petróleo e gás está subjugada aos interesses de 390 empresas importadoras dos acionistas minoritários da empresa, que impõe uma política de dolarização dos preços dos combustíveis em território nacional. É inacreditável que depois do país atingir a condição de autossuficiente em petróleo, com a descoberta das gigantescas reservas do pré-sal em nossos governos, tenha-se optado por se tornar mero exportador de óleo cru e importador de produtos acabados.
O segundo ponto de atenção são os possíveis impactos do conflito na importação de fertilizantes da Rússia, especialmente o cloreto de potássio, produto fundamental para a fertilização do solo e indispensável para a agricultura nacional. O Brasil importa 95% do potássio que utiliza e a Rússia é a principal fornecedora desse produto para o país.
O potássio já está em falta e, assim como petróleo, também está em alta. É evidente que alta do preço terá impacto no custo de produção dos produtos agrícolas, pressionando o preço dos alimentos e impactando de forma dramática na cesta básica e na inflação.
Nada justifica uma guerra e acreditamos na construção da paz por meio do diálogo e da diplomacia, mas é inegável que, o fim União Soviética poderia ter gerado uma ação pacificadora do Ocidente. Mas, ao contrário disso, a forças ocidentais da OTAN optaram por aprofundar uma política agressiva de expansão, passando de 12 membros originais para 30 Estados, inclusive com nações fronteiriças à Rússia, como tentam fazer agora com a Ucrânia.
Esse entendimento entre Rússia e China mexe definitivamente com a geopolítica mundial. Os bloqueios econômicos do Ocidente podem ter algum efeito de curto prazo na economia russa. O embargo ao gasoduto entre Alemanha e Rússia, por exemplo, gerará uma grave crise energética para os alemães, ao mesmo tempo que possibilita a Moscou oferecer gás natural barato para a China por meio do projeto Força da Sibéria.
Os efeitos de médio e longo prazo do bloqueio Ocidental podem até agravar a vulnerabilidade econômica da Rússia, mas colocam no horizonte também um possível acordo comercial amplo entre russos e chineses. Por isso, os desdobramentos dos conflitos na Ucrânia podem resultar na supremacia da economia chinesa no mundo, ao mesmo tempo em que, no Brasil, viveremos o aprofundamento da crise econômica e a explosão inflacionária, em razão de um presidente pária internacional, que é incapaz de entender os desafios, de dialogar, de negociar e de ser respeitado pelas principais lideranças do mundo.