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As análises em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia tem abordado as questões políticas com alguma frequência, mas o impacto das sanções decretadas pelos países ocidentais não tem sido abordada com a atenção necessária.
“O que é curioso dessa história toda é que os grandes defensores das sanções, que são as grandes potências ocidentais, são também em geral, estruturalmente, os grandes defensores da globalização”, explica Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON) da Unicamp à TV GGN 20 horas desta quarta-feira (16/03).
Em entrevista aos jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler, Bruno de Conti ressalta que só agora os países ocidentais “estão percebendo que não é possível fazer sanções específicas para a Rússia sem rebater no restante do mundo – esse é o lado paradoxal da história toda”.
Bruno ressalta que, embora a economia russa tenha uma participação pequena em relação ao PIB global (entre 1,5% e 1,7%), “no grau atual de integração entre os países o efeito é imediato sobre o mundo todo, e com algumas particularidades”.
“(Essa quebra de cadeia) em si – já geraram elevação de preços de insumos pelo mundo, e agora isso vem como um novo choque sobre os preços em primeiro lugar. E aí, enfim, de forma disseminada”, diz o pesquisador, ressaltando que um dos elementos-chave é a questão do custo da energia, como petróleo e gás.
“A volatilidade dos preços das commodities em si já provoca problemas de planejamento, e claro – ela é uma volatilidade mas com tendência crescente em diversas commodities (…)”, diz Bruno de Conti, lembrando que os preços de energia afetam toda a cadeia de transportes – não só o frete rodoviário, como também o frete marítimo e o frete aéreo.
“Quando sobem os preços de alguns bens – muito se falou no Brasil, uns cinco anos atrás, sobre a inflação do tomate – convenhamos que a inflação do tomate não é tão grave, você não come o tomate e pronto. Agora, com energia não é assim – subiu o preço de gás e petróleo, isso tem um peso de irradiação por toda a economia global que não é pequeno. Certamente, esse é o componente principal”, diz Bruno de Conti.
“Também, do ponto de vista dos preços, tem outros minérios, como alumínio, níquel (…) e preços agrícolas, aí diretamente pelo trigo e milho, enfim, que Rússia e Ucrânia são grandes produtores, mas também pelos fertilizantes (…)”
Na visão de Nassif, a cobertura midiática em torno da guerra mostra que a síndrome de Lava-Jato está de volta, com os veículos deixando claro “uma torcida indecente por um lado”.
“Qual é o modelo: eles criam um mocinho-bandido. Ou é mocinho e vítima e bandido. Então, o bandido obviamente é o Putin, e o outro lado no começo era a vítima, e depois encontraram um mocinho, que quer jogar o mundo em uma guerra nuclear, que é o (Volodomir) Zelensky”.
Zelensky teve sua campanha eleitoral bancada pelo proprietário de uma emissora de TV ucraniana – o mesmo que financiou o batalhão Azov, um batalhão neonazista que foi incorporado às Forças Armadas – “seria a mesma coisa que pegar essa milícia de Rio das Pedras e incorporasse às Forças Armadas”, diz Nassif.
“Esse sujeito (Zelensky) é tratado como heroi, e então como você faz? Eu tenho um heroi e tenho um bandido. Então, tudo o que o bandido faz – ele tossiu, dramatize a tosse dele. Tudo é coisa do mal (…)”, diz Nassif. “O Putin tem as manias dele, e o que ele está fazendo aqui é indesculpável, não adianta”.
Contudo, Nassif afirma que os analistas tem sido incapazes nem de condenar Putin e de condenar Zelensky – que está longe da Ucrânia conclamando os países ocidentais a entrarem em uma guerra – ou mesmo os países ocidentais “que ao invés de mandar ajuda humanitária para os ucranianos, mandam armas para os ucranianos serem bucha de canhão”.
Nassif destaca a entrevista realizada pela jornalista Fernanda Mena, do jornal Folha de São Paulo, com o antropólogo ucraniano Volodimir Artiukh, que falou que “a censura que tem na mídia da Rússia, tem na mídia da Ucrânia. Que a guerra de informações, as mentiras que a Rússia conta, a Ucrânia também conta”.