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Os falcões da guerra assumem o protagonismo

Mar 24, 2022

Por Luis Nassif, no GGN                                                                                                        

 

Ao longo de toda sua história, a imprensa corporativa teve altos e baixos. Em alguns momentos, constituiu-se em âncora da democracia e de valores humanistas. Na maior parte das vezes, no entanto, age como mero reflexo de ondas que se formam de forma desarticulada. A mídia, então, passa a atuar pró-ciclicamente. Se a onda for punitivista, a mídia radicalizará o sentimento de vingança; se for garantista, tentará trazer discursos de boa vontade.

O problema é que o punitivismo sempre foi um agente mobilizador mais forte que a solidariedade. Este sentimento, em geral, só aparece após grandes desastres políticos, bélicos ou naturais.

Hoje em dia, o mundo está no momento mais próximo de um confronto global desde o episódio dos mísseis russos em Cuba, nos anos 60. E a imprensa mundial – especialmente a americana – tem sido um fator a mais na radicalização dos espíritos. Há uma tendência inexorável da mídia corporativista de se comportar como as bolhas de Internet, de escolher um lado, radicalizar suas posições e, em caso de ebulição, colocar mais combustível na fogueira.

Crítico desses movimentos de manada da mídia, o jornalista Glenn Greenwald se espantou com o nível de radicalização dos espíritos nos Estados Unidos, conforme mensagens publicadas em seu Twitter.

No caso dos Estados Unidos, desde o 11 de Setembro nunca houve consenso entre os dois partidos, o Republicano e o Democrata. Agora, os que exigem o envolvimento dos EUA na guerra na Ucrânia se tornaram maioria absoluta, 426 a 7. Esse movimento repetiu a radicalização da opinião pública que, maciçamente, estimula a guerra.

Os que questionam esse consenso partidário são minoria absoluta. Segundo Glenn, são os hereges que a unidade religiosa precisa para odiar.

Segundo ele, em todo mundo há uma enorme resistência à ampliação da guerra. Mas a narrativa predominante nos EUA é que “o mundo” está unido pela guerra.

Trata-se de um dilema mundial. Da parte de Putin, a conquista da neutralidade da Ucrânia e a autonomia das duas regiões dissidentes tornou-se questão central para a sobrevivência da Rússia. E qualquer recuo significaria seu enfraquecimento interno.

De lado a lado, a população da Ucrânia tornou-se bucha de canhão. Do lado da Rússia, com a decisão da invasão. Do lado dos EUA e aliados com a política única de enviar armamentos para que a guerra desgaste a Rússia ao máximo – sem se importar com os resultados sobre a população civil.

Resta pouco espaço para os defensores de uma saída diplomática. É só conferir o que aconteceu no Brasil, com uma mídia que emula a mídia americana de uma maneira medíocre. 

O Itamaraty foi uma das poucas chancelarias a defender uma saída democrática. E foi espancado por uma série de comentaristas de mídia, sem um pingo de responsabilidade institucional.

Por isso mesmo, ainda levará um bom período de desgaste, em que a guerra irá se arrastando , trazendo prejuízos continuados à economia mundial e brasileira.

Mídia

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