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Poliomielite: Brasil corre risco de retorno da doença

Ago 09, 2022

Por Juliana Passos e Nara Lacerda, no Brasil de Fato                                                                           

                                                                                             

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As sucessivas quedas nos índices de alcance da vacinação contra a poliomielite podem levar o Brasil a voltar a ter registros da doença. Desde 2015 a cobertura vacinal em solo nacional está abaixo do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 95%. Fora desse patamar, a população não pode ser considerada protegida.

O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, explica que há várias causas para o fenômeno conhecido como hesitação vacinal, quando há vacina disponível, mas as aplicações não acontecem. Um dos motivos é a falta de conhecimento sobre as doenças.

"Em 2019 a Organização Mundial da Saúde já colocava como uma das dez ameaças à saúde global, a hesitação vacinal. Umas das principais causas – e aqui cabe bem para a pólio – é a complacência. A falsa sensação de segurança para doenças que as pessoas nunca viram, não conhecem e acham que não precisam vacinar seus filhos e se vacinar. Pólio é um exemplo."

O Brasil não tem relatos de infecções desde 1989 e é considerado livre de circulação do poliovírus desde 1994, segundo certificação da OMS. Mas o vírus ainda circula no planeta e o risco é real.

Países com cobertura vacinal superior a do Brasil, como Israel e Estados Unidos, registraram casos este ano. "É um alerta, porque temos observado em países que têm altos índices de cobertura vacinal e, ao mesmo tempo, os casos que foram observados foram de pessoas não vacinadas. Esse é o primeiro alerta, a doença acontece em especial em pessoas não vacinadas", ressalta Juarez Cunha.

Ele conta que, assim como o Brasil, Israel havia relatado o último caso em 1989. No primeiro semestre, foram registrados sete casos no país. "Nós, que estamos com cobertura abaixo de 80%, sem fazer a vigilância de paralisia flácida e sem fazer a vigilância ambiental – que é bem interessante para detectar o vírus em esgotos – nos coloca em risco e é uma informação muito preocupante."

Dados coletados em 2021 mostram que a primeira dose da vacina chegou a apenas 67% do público alvo no Brasil. Os reforços tiveram resultados ainda piores e chegaram a apenas 52% das crianças.

Transmissão e sintomas

Além dos baixos índices de imunização, pesa para o Brasil a falta de saneamento básico. Quase metade da população não tem coleta de esgoto e 35 milhões não tem água tratada.

A poliomielite é transmitida principalmente pela boca por meio do contato com fezes contaminadas ou com gotículas de uma pessoa infectada. Água e alimentos podem ser meios de propagação.

Depois que o vírus entra na corrente sanguínea, o caminho está aberto para que ele chegue ao sistema nervoso. Os sintomas mais leves são febre, dor de garganta, náusea, vômito e constipação. Mas nas formas graves da doença, que atingem principalmente crianças com menos de cinco anos, a doença causa paralisia, geralmente nas pernas.

História

A erradicação da poliomielite foi uma conquista histórica para a saúde pública brasileira, que sofreu com surtos durante todo o século XX. Nos anos 1950, epidemias graves atingiram diversas cidades e, na década seguinte, o país começou a campanha de imunização em massa.

Ainda assim, o processo caminhou com organização insuficiente e sem conseguir controlar a doença. Entre 1968 e 1989 foram registrados mais de 26 mil casos.

Foi somente na década de 1980, com incentivo de iniciativas internacionais, que o poder público passou a determinar dias específicos com campanhas massivas para a vacinação de todas as crianças de até cinco anos de idade. Em três anos, a incidência caiu para quase zero.

Em 2021, o país completou dez anos de uso da vacina injetável com o vírus inativado para as primeiras doses. O método mais eficaz e seguro substitui as conhecidas gotinhas, que contém o vírus atenuado.

No entanto, o avanço de uma década não pode ser comemorado frente à baixa cobertura vacinal.

"Para que a poliomielite não volte, precisamos sim ter  cobertura de 95%. É o que sempre falamos: proteção das vacinas passa, não só pela proteção do indivíduo, mas da coletividade, para podemos ter imunidade coletiva. Termos cobertura vacinal de 80% ou menos é um risco muito grande para o nosso país", conclui Juarez Cunha.
 

 

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