Foto: Reprodução TV Brasil
Do alto de sua reconhecida sagacidade política, Lula sabe perfeitamente que o Congresso Nacional, com a composição fortemente conservadora atual, não reverterá a autonomia do Banco Central aprovada durante o governo Bolsonaro.
Então, por que o presidente escolheu a independência da autoridade monetária como o alvo preferencial de suas críticas nos últimos dias?
Primeiro é preciso contextualizar o debate sobre os juros na situação real da economia do país. Como não há inflação por demanda aquecida, que se verifica quando o excesso de consumo leva à escassez e ao encarecimento dos produtos, não há justificativa técnica plausível para que o Brasil conviva com a maior taxa de juros do mundo.
Juros que só favorecem o rentismo, pois em vez de investir em atividades produtivas que gerem emprego e renda, os capitalistas preferem aplicar seu dinheiro na ciranda do mercado financeiro.
Boa parte até dos nossos empresários do setor industrial, por exemplo, têm a maior parcela de seus ganhos oriunda do mercado financeiro.
Isto posto, é importante registrar que Lula, ao usar seu poder de comunicação e a força do cargo de presidente da República para denunciar o efeito deletério dos juros estratosféricos sobre o ambiente econômico, aposta em encurtar o espaço para a manutenção da política de juros altos.
Convencido de que se trata de uma guerra prolongada, Lula move suas peças no tabuleiro com a finalidade de fazer o adversário entender que sempre encontrará resistência.
O jogo é pesado. O atual presidente do Banco Central independente é bolsonarista de carteirinha, do tipo que até de grupo de whtsapp de ex-ministros de Bolsonaro participa.
Lula tem consciência disso, assim como da reação da mídia comercial, comprometida até o talo com os banqueiros, a cada declaração sua questionando os dogmas do mercado.
Mas o que importa para ele é pautar a discussão na sociedade. enquanto dissemina suas teses.
E a tática de Lula é mais sofisticada do que o confronto puro e simples. Acabo de assistir a uma entrevista do ministro Haddad, na qual ele considera um gesto de boa vontade do Banco Central a ata do Copom ter reconhecido como positivas, desde que aprovadas pelo Congresso Nacional, as medidas de contenção do déficit público anunciadas em janeiro pelo Ministério da Fazenda.
Em linhas gerais, podemos dizer que a estratégia do governo é Lula bater e Haddad negociar, até que sejam criadas as condições para que a economia do país volte a crescer e gerar empregos, o que é praticamente impossível com a vergonhosa taxa de juros em vigor.
É preciso paciência e perseverança, mas é uma luta que vale a pena.