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Escrever um texto crítico sobre a comunicação do governo federal requer algumas ressalvas:
1) Para além de um deputado combativo, competente e comprometido com as causas do povo brasileiro, o deputado Paulo Pimenta, jornalista de profissão, é militante de longa data da luta pela democratização das comunicações no país.
2) A Secom foi destruída pelo governo Bolsonaro. Embora o ministro Pimenta esteja se cercando de profissionais de primeira linha, com trajetória nos embates democráticos e experiência nas mais diversas áreas da comunicação, há vários entraves burocráticos a serem vencidos até que a máquina do ministério esteja azeitada.
3) O governo nem completou três meses. Portanto, conclusões taxativas sobre o “fracasso” de sua comunicação, como as que tenho lido e ouvido por aí, são precipitadas e pouco ajudam na superação dos problemas.
Tudo isto considerado, vou direito ao meu ponto: a comunicação governamental tem partido de uma premissa equivocada, segunda a qual vivemos tempos de paz, quando ainda estamos em guerra.
Aliás, não há sinais no horizonte de que o inimigo nos dará trégua ao longo de todo o mandato do presidente Lula.
A extrema direita mantém consolidada uma expressiva base social, eleitoral e política, segue derramando fake news em profusão e conta com ampla representação no Congresso Nacional, cuja composição é a mais desqualificada da história. Por sua vez, os segmentos de centro e de direita aliados, além dos grupos de mídia, não compartilham de nossa pauta econômica.
A pesquisa Ipec divulgada neste domingo (19) traz um dado estarrecedor: 44% dos entrevistados concordam total ou parcialmente que o Brasil está ameaçado pelo comunismo. Este delírio coletivo, resultado da lavagem cerebral bolsonarista, mostra a guerra prolongada que temos pela frente.
Voltando ao tema central do artigo, dispensa comentários as diferenças óbvias entre a políticas de comunicação implementadas em uma campanha eleitoral e as voltadas para o dia a dia de um governo.
Mas guerra é guerra. Por isto, estou convencido de que é urgente incorporar elementos da guerrilha digital do deputado federal André Janones, de tanto sucesso na campanha de 2022. O estilo desabrido e agressivo de Janones, vale lembrar, chegou a colocar na defensiva a usina de fake news do QG de Bolsonaro.
E hoje a realidade continua impondo uma postura de combate permanente, 24 horas por dia, na disputa de narrativas.
É preciso criar conteúdos para as redes sociais que não deixe ataque sem resposta. Isto vale tanto para os fascistas como para a mídia corporativa Este filme a gente conhece. É forte no seio do povo o sentimento de que quem cala consente.
Também as inúmeras realizações do governo - duvido que algum outro tenha apresentado volume parecido no mesmo espaço de tempo- carecem de mais divulgação.
A visão do governo sobre todos os temas em debate na agenda política do país urge se tornar pública com mais agilidade. Neste sentido, uma ideia seria a recriação da figura do porta-voz, experiência que teve vida curta no primeiro mandato de Lula, quando o cientista político André Singer ocupou o posto.
Um exemplo a ser observado com atenção é o governo de Barack Obama, durante o qual o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, reunia a imprensa todos os dias logo na parte da manhã, para transmitir a posição oficial do governo acerca dos assuntos mais relevantes, pautando a mídia cotidianamente.
Essas são algumas ponderações que, do meu ponto de vista, podem contribuir para a comunicação avançar. Mas, como se trata de um longo e complexo debate, voltarei ao assunto, inclusive tratando também do papel central da comunicação do PT.