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As novas regras fiscais e o velho antipetismo da mídia

Mar 30, 2023

Por Bepe Damasco                                                                                                                      

 

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

1) Bolsonaro deixou o governo com um rombo orçamentário gigantesco, resultado de uma aventura eleitoral irresponsável e criminosa, distribuindo dinheiro a torto e a direito, para comprar votos.

Mas, para a Globo e demais veículos da imprensa corporativa, o governo Lula, através principalmente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detinha uma varinha mágica, capaz de pôr as contas em ordem imediatamente. Bastava, por exemplo, cortar os investimentos sociais.

2) Para enfrentar a sabotagem explícita à economia do país por parte do Banco Central, que insiste em manter a maior taxa de juros do mundo, Haddad decide antecipar para março o anúncio das novas regras fiscais.

O esforço do ministro, contudo, para os comentaristas econômicos, corre o sério risco de fracassar caso Haddad se renda às “pressões” de Lula e não considere no seu texto saúde e educação como gastos, mas sim como investimentos.

3) Em um governo liderado por um partido democrático como o PT, nada mais natural que uma proposta tão complexa, fundamental para alavancar o crescimento do país nos próximos anos, seja objeto de críticas e sugestões de outros ministros, bem como de parlamentares e lideranças do PT e do campo progressista.

Porém, da forma maniqueísta e binária que lhe é peculiar, a imprensa dispensa ao ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, ao presidente do BNDES, Aluízio Mercadante, e, principalmente, à presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o tratamento de inimigos da proposta gestada por Haddad e sua equipe da Fazenda.

4) Buscando o respaldo necessário para aprovar as novas regras, Haddad faz um périplo pela República apresentando o trabalho para o vice-presidente Geraldo Alckmin, para os presidentes da Câmara e do Senado e, por fim, para Lula, que o aconselha a ouvir também economistas não ligados ao mercado financeiro.

Acostumada com os pacotes enfiados goela abaixo da sociedade por governos conservadores e com o autoritarismo ultraneoliberal e entreguista de Paulo Guedes, a mídia confunde zelo com a coisa pública com “bateção de cabeças” e indefinição deletéria aos interesses do país.

5) Antes de ter sua visita à China cancelada por motivos de saúde, Lula determina o óbvio: o arcabouço só seria anunciado na volta da viagem, pois Haddad e ele teriam que estar no Brasil para as entrevistas e explicações devidas.

Mais rame-rame na imprensa sobre os prejuízos causados ao mercado pelas “idas e vindas” das novas regras. Comentaristas chegam a vestir em Haddad o figurino de inocente útil, sempre enganado, já que, de início, ele queria anunciar o plano antes da ida para a China.

6) Escrevo na manhã de quinta-feira (30), dia em que está previsto o anúncio oficial das medidas, depois de Lula ter batido o martelo. Mas, desde a véspera, o inevitável vazamento dos principais pontos mostra que a proposta combina responsabilidade social com ações para conter o déficit público, a ponto de projetar contas no azul a partir de 2025.

Entre sorrisos amarelos, analistas globais até reconhecem a qualidade do trabalho, mas sem deixar a mediocridade de lado. Como vivem assombrados com o fantasma do PT, dizem que foi uma “vitória do ministro Haddad contra o PT.”

Haja pobreza de espírito.

Mídia

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