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Ministro do STF, Ricardo Lewandowski sempre votou contra flexibilização de direitos sociais e trabalhistas – Foto: Nelson Jr./STF
O ministro Ricardo Lewandowski, que se aposenta do Supremo Tribunal Federal (STF) após 15 anos, foi homenageado neste sábado (1º) pelo Grupo Prerrogativas. A live com duas horas de duração, intitulada Suprema Saudade, foi mais que um bate-papo com juristas e jornalistas. Em cada uma das respostas, o ministro que sempre votou contra flexibilização dos direitos sociais e trabalhistas mostrou mais uma vez a razão de ser respeitado, admirado e querido.
Além de mostrar a ética e o compromisso com o país e seu povo ao defender a Constituição e os direitos durante os 15 anos de atuação, como no caso da pandemia de covid, deu diversas outras lições. E lamentou que os brasileiros, sobretudo os mais jovens, perderam o que ele chama de “visão de mundo”. Uma visão, destacou, deve estar acompanhada de valores e princípios.
“É muito importante. Esta é uma coisa que hoje nós brasileiros, sobretudo os jovens, perdemos um pouco. Nós perdemos uma visão geral do mundo, da realidade circundante. Enfim, deixamos de ter uma visão política”, disse o ministro.
Essa visão política, como destacou, não é no sentido partidário. Mas naquele dos gregos antigos: o envolvimento nas questões da pólis, da cidade, do estado, da comunidade. “Isso está faltando. Eu sou da geração dos anos 60, em que o mundo estava dividido entre duas potências hegemônicas. Estados Unidos de um lado, União Soviética de outro, época da guerra fria. E os jovens de certo modo eram impelidos a tomar uma posição, a se colocar em face dos grandes problemas que o mundo enfrentava”.
E defendeu engajamento. “Hoje eu lamento dizer que sinto falta dessa politização no sentido positivo da palavra. Sobretudo os jovens e o cidadão brasileiro de um modo geral precisam se engajar na política. Mas política com ‘P maiúsculo’. É preciso tomar posição, é preciso ter uma visão de mundo, agir segundo princípios e valores. Precisamos resgatar isso”.
Lewandowski alertou para o fato de que o cidadão brasileiro passou, pouco a pouco, a se transformar em consumidor. E perdeu essa dimensão social da vida cotidiana. “Há necessidade, obrigação, de se engajar nos interesses da coletividade e fazer parte da construção do bem comum”, disse.
E para ele, isso é fundamental em qualquer profissão. Seja na advocacia, no Ministério Público, no magistério e mesmo nas profissões técnicas e manuais. “‘É preciso realmente termos um propósito de vida, um norte. E esse norte só pode ser dado na medida em que nós nos guiemos por valores balizados por uma visão de mundo mediada por uma compreensão política das coisas.”