Os programas jornalísticos da TV fechada enveredaram de vez pelo caminho da oposição inflexível ao governo Lula, a ponto de não verem nada demais em algumas tentativas explicitas de achaque do Executivo por parte de setores do pior Congresso de todos os tempos. É nítida a retomada da linha editorial voltada para a desestabilização do governo.
Se um extraterrestre descesse no Brasil, curioso para conhecer um pouco sobre os assuntos políticos em voga por aqui e sintonizasse os canais de TV, ou desse uma passada de olhos pelos jornais dos últimos dias, firmaria as seguintes convicções:
1) O atual governo do país, que ainda nem completou seis meses, tenta aprovar na Câmara dos Deputados uma medida que lhe permita organizar sua estrutura do jeito que julga conveniente para cumprir promessas e compromissos de campanha. Mas a coisa foi difícil e ganhou contornos de drama.
2) A tal Medida Provisória só foi aprovada pelos deputados a poucas horas do encerramento do prazo de perder a validade, porque a articulação política do governo é um primor de incompetência, incapaz de atender minimamente aos pleitos republicanos dos senhores deputados.
3) O xis do problema é a teimosia do poder Executivo, que tem à frente o maior líder popular da história deste país, de fazer valer a soberania popular, expressa pelos mais de 60 milhões de votos obtidos na última eleição. Ora, embora o sistema seja presidencialista, será crise em cima de crise enquanto o presidente da República não reconhecer que o presidente da Câmara é, de fato, o primeiro-ministro.
Depois que o alienígena for embora, decolando com sua nave poderosa, tudo permanecerá como dantes. Os comentaristas de política do maior grupo de mídia seguirão no mesmo diapasão de análise dicotômico, rasteiro e manipulador.
Para eles e elas, tudo se resume à falta de competência dos articuladores do governo junto ao Congresso. Nem de longe é dever de quem governa zelar pelo erário. Ao contrário, suas torneiras devem se manter sempre abertas diante do menor esperneio de suas excelências deputados e senadores.
A julgar pela pregação de jornalistas de grandes veículos de comunicação, alguns com brilho de ódio nos olhos ante a simples citação da palavra PT, todas as demandas dos parlamentares são legítimas e o governo de plantão deve se curvar sem maiores questionamentos.
Só um “governante insensível” como Lula pode insistir em passar o pente fino do interesse público sobre as emendas parlamentares e a nomeação para cargos no governo.
Sim, está claro que a articulação política do governo tem problemas e muitas vezes bate cabeça. Isso precisa ser solucionado o quanto antes.
Contudo, estou convencido de que a maior parte dos embaraços com o Congresso tem mais a ver com os acertos do governo do que com seus erros.