Foto: Mídia Ninja
1) As jornadas de junho, que completam dez anos, se deram no seguinte contexto: desemprego – 4,3%, o menor da história; inflação – 5,91%; preço da gasolina – R$ 2,64; diesel – R$ 1,99; gás de cozinha – R$ 41,95. Por tudo isso, o primeiro governo Dilma Rousseff, em seu terceiro ano, contava com altos índices de aprovação nas pesquisas. O Brasil estava fora do mapa da fome e desfrutava de democracia plena e protagonismo internacional.
2) O país nunca mais foi o mesmo depois que um movimento de protesto pelo aumento de 20 centavos na passagem, em São Paulo, foi apropriado primeiro pela direita tradicional, liderada pelas Organizações Globo, e depois pela extrema-direita, que passou a dar as cartas.
3) Com a besta do fascismo solta nas ruas, as consequências foram o golpe de estado contra Dilma Rousseff, em 2016, a Lava Jato e seus personagens repulsivos como Moro e Dallagnol, a caçada a Lula e sua prisão ilegal, culminando com a ascensão de Bolsonaro e sua chegada ao governo.
4) Embora setores da esquerda ainda insistam em glamourizar e ver tintas progressistas nas mobilizações, se deixando levar por bobagens do tipo o “gigante acordou” ou pela palavra de ordem vaga e decorativa de “saúde e educação padrão Fifa””, a história há de registrar o papel central do movimento na disseminação da intolerância e do ódio, que até hoje envenenam a vida nacional.
5) Bolsonaro produziu uma onda de destruição dos fundamentos políticos, sociais, econômicos, ambientais e civilizatórios sem precedentes na história do país. Mas as estrelas de 2013, os tais “black bloks” (mascarados que quebravam tudo que viam pela frente) sequer deram o ar da graça ao longo de quatro anos terríveis. Isso só reforça a suspeita de que muitos dos integrantes destes agrupamentos de vândalos não eram anarquistas coisa nenhuma, como se anunciavam, mas sim milicianos a soldo da extrema-direita.
6) Não custa lembrar que a exemplo dos golpistas de 8 de janeiro de 2023, os "revolucionários" de 2013 também avançaram sobre as sedes dos Três Poderes, em Brasília, e as cercaram, só não invadindo os prédios porque foram contidos pelas forças de segurança.
7) Outro alvo dos manifestantes de dez anos atrás era a Copa do Mundo. Jovens ligados a partidos e grupos pretensamente esquerdistas ecoavam o cântico “não vai ter copa, vai ter luta”, uma ação política que tinha o nítido objetivo de criar um constrangimento para o governo petista no exterior. Chegaram mesmo a tentar marchar sobre os estádios nos dias de jogos, para tumultuar a competição e atrair holofotes da mídia de todo o planeta.
8) Junho de 2013 inaugurou um estranho modelo de campanha de massa, desprovido de pauta de reivindicações, estratégia e pressão por negociações. Fora o pleito inicial pelo não aumento das passagens, logo resolvido com a suspensão da majoração, o resto se resumiu a discurso inconsequente, à quebradeira e à porra-louquice.
9) Um modismo pueril impulsionava a maioria das pessoas para as ruas, sob a capa falsa do amor pelo Brasil e do compromisso genuíno com a causa democrática. Quem tinha bons propósitos acabou virando massa de manobra. Anos depois, Bolsonaro esteve a um passo de transformar em cinzas o regime democrático e contribuiu para a morte de centenas de milhares de brasileiros na pandemia sem que nem uma miserável fagulha do “ímpeto cidadão” de 2013 voltasse a se manifestar.
10) Fiel à sua trajetória de apoio a rupturas da ordem constitucional, a Globo viu no movimento uma oportunidade de desestabilizar o governo do PT e criar as condições para sua queda. Só isso interessava aos Marinho. A TV Globo derrubou sua grade de programação em várias oportunidades, para cobrir ao vivo os atos em todo o país.