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No momento do noticiário sobre a busca e apreensão no gabinete do senador Marcos Do Val, me dei ao trabalho de fazer uma rápida pesquisa: surfando na onda da extrema-direita, este político de baixíssima extração foi eleito com 863.359 votos de cidadãos e cidadãs do Espírito Santo, nas eleições de 2018, quando concorreu pelo hoje extinto PPS.
É aquela história: jabuti não sobe em árvore, alguém o coloca lá. E o Senado Federal, cujo ingresso se dá através de eleição majoritária sem segundo turno, na qual o mais votado leva (ou os dois mais votados), virou o alvo preferencial da cobiça, tanto na eleição de 2018 como em 2022, dos candidatos do fundamentalismo mais tosco e do atraso civilizatório.
Seja na disputa por uma ou duas cadeiras, a pulverização de candidaturas acaba favorecendo figuras deploráveis, tais como Do Val, Damares Alves, Hamilton Mourão e o astronauta Marcos Pontes, dentre outras.
A fórmula é simples: levando-se em conta o baixo nível educacional, de informação e de consciência política do nosso povo, sempre haverá entre 20% e 30% de eleitores sensíveis à cantilena conservadora, de viés fascista, com apelos sistemáticos à mentira, à intolerância e ao ódio.
Aí basta passar toda a campanha falando que “bandido bom é bandido morto”, em kit gay nas escolas, em fechamento de igrejas e liberação das drogas por parte da esquerda, no confisco de propriedades e no perigo iminente do comunismo ser implantado no país.
Se essa realidade paralela, pregada sem o menor escrúpulo, já é há tempos a mola mestra da atuação da extrema-direita, que dirá com o tsunami causado pelas redes sociais, cujas plataformas teimam em não se submeter às leis e abrigam toda sorte de crimes cometidos em nome da liberdade de expressão.
Nesta toada, um homem público com o compromisso republicano, a dedicação às transformações sociais e a trajetória impecável de um Olívio Dutra perde a eleição para um político minúsculo, vazio e golpista como Hamilton Mourão, como na última eleição.
São vários os exemplos de resultados aterradores para o regime democrático nos pleitos para o Senado (para as assembleias legislativas, governos estaduais e Câmara dos Deputados também, mas ficam para outro artigo), mas escolhi o caso do Rio Grande do Sul para citar devido à enorme distância que separa o vencedor e o derrotado em termos de estofo político e moral.
Sabemos o quão complexo é o debate sobre mudanças no sistema político e que, pela atual correlação de forças, qualquer alteração tenderia a torná-lo ainda pior.
Mas, fica uma modesta chamada à reflexão: assim que a atmosfera política estiver menos carregada, não faria bem para a democracia a eleição de senadores em dois turnos, uma vez que são representantes dos estados da federação e desfrutam do privilégio de oito anos de mandato?