Foto: EBC
Ao entrevistar o ex-ministro José Dirceu, o jornalista Breno Altman, em seu programa "20 minutos, pediu que o entrevistado comentasse sobre os limites para o investimento público impostos pelo novo marco fiscal.
Resposta do José Dirceu: “Breno, isso só será resolvido quando formos capazes de mudar a correlação de forças no Congresso Nacional. Temos que eleger 200 deputados e 30 senadores.”
Esse é o ponto. E não é cedo para se pensar nisso. Claro que o governo acerta quando age pragmaticamente em busca de uma sustentação parlamentar mais robusta que lhe permita um mínimo de tranquilidade para governar.
Mas é inegável que muitos dos problemas enfrentados pelos governos de Lula e Dilma em passado recente estão ligados à necessidade de, em nome da governabilidade, ceder espaços no governo para o centro e para a direita.
O problema vai além da entrega de ministérios a quadros pouco confiáveis do ponto de vista republicano e não afinados política e ideologicamente.
A desidratação e calibragem de algumas políticas públicas, para torná-las palatáveis aos conservadores, e o freio de mão puxado em relação a algumas reformas cruciais para o avanço do Brasil como nação, por absoluta falta de apoio congressual para implementá-las, se constitui em um mal ainda maior.
O debate sobre o desafio proposto por José Dirceu é de extrema urgência. Se é verdade que as eleições para o Legislativo vêm sendo cada vez mais valorizadas pelo PT e demais partidos de esquerda, também é fato que o investimento político nos pleitos proporcionais ainda está aquém do necessário, especialmente se comparado com a atenção dispensada às eleições majoritárias.
Para pegar o exemplo mais recente, em 2022, durante toda a campanha, os candidatos majoritários do campo popular e de esquerda, além dos próprios postulantes ao parlamento, fizeram, como em nenhum outro pleito, incontáveis discursos, nas ruas, nas redes e na TV, alertando para a centralidade absoluta da eleição de deputados e senadores. Lula também não se cansou de bater nesta tecla.
Mas como competir com os mercadores da fé que pedem votos para políticos obscurantistas no púlpito das igrejas ? Como se contrapor à maquina de fake news do fascismo? Como disputar a preferência eleitoral dos que se deixam levar por mentiras massificadas de que a esquerda defende bandido e prega a liberação geral das drogas e do aborto sem quaisquer condicionantes e restrições? Como medir forças com as campanhas endinheiradas dos candidatos da burguesia?
Neste sentido, tem avançado a destinação de recursos financeiros para os candidatos através do fundo eleitoral. Entretanto, prevalece uma desproporção considerável entre os valores voltados para as eleições proporcionais e majoritárias.
Não há respostas fáceis para questões de tamanha complexidade. Sabemos que as direções partidárias estão preocupadas. Contudo, até que ponto essa preocupação se reverte em ações concretas e inovadoras? Pensar e planejar a participação em eleições proporcionais apenas nos anos eleitorais tem se revelado insuficiente para dar conta do desafio de aumentar de forma significativa as nossas bancadas,
Boas iniciativas, como os Grupos de Trabalho Eleitoral (GTEs) do PT, poderiam funcionar em caráter permanente, tipo ao término de uma eleição já começar a trabalhar para a próxima. A qualidade das nominatas seria certamente reforçada com a realização regular de seminários e debates (também nos locais de trabalho e nos bairros) visando a formação de chapas de fato competitivas.
No mundo do futebol, têm ganhado cada vez mais proeminência o trabalho dos setores de scout dos clubes, responsáveis por mapear minuciosamente no mercado os jogadores que podem ser objeto de tentativas de contratação.
Guardadas as diferenças óbvias, os partidos podiam adotar procedimentos semelhantes fazendo um raio x dos possíveis candidatos no âmbito dos movimentos sociais e sindicais e demais entidades da sociedade civil, sem esquecer das figuras públicas de perfil progressista, como artistas e intelectuais, e das lideranças populares com potencial eleitoral.