Divulgação/SP/Bancários
Sempre esteve na ponta da língua de qualquer governante conservador e de boa parte dos donos do capital, bem como de seus porta-vozes na mídia corporativa, a denúncia de greves de trabalhadores como movimentos de caráter político.
Não foi diferente agora, em São Paulo, durante a greve de 24 horas dos trabalhadores da Companhia do Metropolitano (metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp), todas alvos do programa de privatizações do governo do estado.
Como se tudo na vida em sociedade não tivesse viés político (não confundir com política partidária).
Como se os sindicatos fossem proibidos de ir além da luta por salários, direitos e benefícios, sua missão prioritária.
Como se os trabalhadores não fossem cidadãos que demandam transporte, saúde, educação, segurança, habitação, cultura, etc.
O governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, quadro da extrema-direita brasileira que encena ter compromissos democráticos para se tornar palatável para a direita mais moderada, se portou na greve como um autêntico extremista: se negou a negociar e repetiu à exaustão o mantra da greve política, visando jogar a opinião pública contra os trabalhadores.
O fato é que a greve que parou a maior metrópole do continente cumpriu um importante papel político ao alertar a população para as consequências dos planos de privatização selvagem do governador Tarcísio, que pretende se desfazer de praticamente todo o patrimônio público do estado.
Em sua declaração depois do fim da greve, a jovem presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, assumiu orgulhosamente o objetivo político e o interesse social do movimento:
"A greve encerrou, mas a luta continua até a gente derrotar os planos de privatização de Tarcísio. Muito obrigada pelo apoio de todos. Estamos muito orgulhosos da greve de 24 horas que realizamos em defesa do transporte público e barato e de qualidade e do direito à agua."
O problema para Tarcísio é que o usuário do sistema de metrôs e trens paulistanos sabe que, com a privatização, o que já não está bom tende a piorar. O passageiro sente na pele que a parte privatizada do sistema de trens é disparada a que apresenta mais problemas diários.
A campeã de reclamações é a Linha 9 - Esmeralda, administrada pela Via Mobilidade, braço da CCR, que vive às voltas como o Ministério Público. Em segundo e em terceiro lugares no ranking de maus serviços prestados aparecem outras linhas também fora do controle do poder público.
A imprensa comercial não vai reconhecer nunca, é claro, mas greves em defesa da qualidade de vida do conjunto da população não só contribuem para a afirmação da cidadania, como influenciam positivamente no nível de consciência política da sociedade.