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Criticar Israel não é ser antissemita ou terrorista

Out 25, 2023

Por Francisco Ladeira *, no Jornal GGN                                                                                                              

Foto: IPS     

Historicamente, o genocídio promovido pelo Estado de Israel contra o povo palestino só encontra paralelos nos piores momentos da humanidade, como o colonialismo europeu, o apartheid sul-africano e os campos de concentração nazistas.

Isso por causa de uma desonesta e corriqueira estratégia discursiva, que consiste em rotular todas as vozes que se opõe às ações criminosas do Estado de Israel como “antissemitismo” (isto é, ódio e aversão contra os povos semitas, em especial aos judeus).

Assim, tem-se o álibi ideal para negar o genocídio palestino, sob o verniz de uma suposta defesa dos judeus. Se alguém fala em limpeza étnica em Gaza e Cisjordânia, por exemplo, logo é “antissemita”.

Já o sionismo, enquanto movimento político-ideológico, surgiu no final do século XIX, no continente europeu. Resumidamente, seu principal objetivo era a criação de um Estado-Nacional judaico (concretizado em 1948, com o surgimento de Israel), a partir da premissa de um povo sem terra (judeu), para uma terra sem povo (Palestina).  

Trata-se de um raciocínio falacioso. Primeiro, a Palestina não era uma “terra sem povo”, haja vista a presença árabe na região. Segundo, a própria ideia de um “povo unitário”, aplicada aos judeus, depois de séculos de diáspora, é questionável.

A partir das palavras acima, podemos compreender a existência de grupos judeus antissionistas, como os Neturei Karta (“Guardiões da Cidade”, em aramaico). Para eles, o Estado de Israel, seguindo os preceitos sionistas, é uma blasfêmia, usurpação do poder de Deus e desconfiguração dos propósitos originais do judaísmo, pois o verdadeiro Israel só poderá ser restabelecido com a vinda do Messias. 

Discordâncias religiosas à parte, evidentemente, é temeroso dizer que os Neturei Karta, um grupo judeu, pode ser rotulado como “antissemita”.

Como temos assistido, ouvido e lido sistematicamente nos grandes veículos de comunicação nos últimos dias, toda a historicidade da geopolítica palestina foi capciosamente negligenciada para criar a narrativa de que o conflito Israel-Palestina começou no dia 7 de outubro, com “o ataque do Hamas contra civis israelenses”.

Assim, criou-se a falsa dicotomia entre “terroristas do Hamas” e Israel, “a única democracia do Oriente Médio”. Nessa lógica, criticar Israel não é apenas “antissemitismo”; também é “apoiar terrorista” (diga-se de passagem, um grosseiro erro semântico, pois nem a própria ONU classifica o Hamas como “terrorista”).

Não se trata de negar a complexidade da geopolítica, mas, sobre a questão palestina, lembrando Paulo Freire, não há neutralidade possível. Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele. Consequentemente, ficar alheio significa compactuar com um dos maiores genocídios que a humanidade presenciou. Portanto, não há como bancar o “isentão” nesse momento.

                                                                      

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