A região da Avenida Faria Lima, em São Paulo, concentra os maiores bancos de investimentos do país - Foto: Carlos Amoroso (Fotos Públicas)
Recentemente a Petrobras anunciou mudanças nos critérios de nomeações para seu Conselho de Administração e nas regras para a distribuição de dividendos. Em consequência, as ações da estatal, impulsionadas pelo alarido sem conteúdo da mídia corporativa, despencaram na Bolsa de Valores.
No dia seguinte, estava em todas as manchetes uma mentira grosseira: a maior empresa brasileira perdera 32 bilhões de seu valor de mercado. Nenhuma das notícias que li e ouvi sobre o assunto cuidaram de informar o óbvio: na gangorra das ações do mercado de capitais, nada mais natural que o sobe e desce da valorização dos papéis. Perde-se em um dia, ganha-se no outro.
Isso não tem nada a ver com o valor real de uma companhia. Os poços de petróleo no pré-sal e no pós-sal, a produção diária de óleo e gás, as refinarias, distribuidoras, centros de pesquisas, a produção de biocombustíveis, as plataformas e plantas, enfim todo o ativo da empresa, permanece impermeável às oscilações do mercado financeiro.
Dias depois, o mundo da Faria Lima e da imprensa comercial pareceu desabar quando o presidente Lula comentou em entrevista coletiva que o Brasil dificilmente conseguiria cumprir a meta de déficit primário zero das contas públicas em 2024, conforme está previsto no arcabouço fiscal proposto pelo governo e aprovado pelo Congresso Nacional.
E pegaram pesado. Até de sabotar o país Lula foi acusado em editorial do jornal Folha de São Paulo. Na mesma toada crítica, para os analistas globais, Lula desautorizara e enfraquecera seu ministro da Fazenda. E, claro, a cereja do bolo: a bolsa caiu e o dólar subiu.
Se não estivessem engessados pela condição de ventríloquos da especulação, os veículos de comunicação conseguiriam enxergar que o ministro Haddad e o presidente Lula estão e sempre estiveram sintonizados.
Enquanto Lula cuida da agenda prioritária do crescimento econômico com distribuição de renda e inclusão social, cabe a Haddad engolir sapos em suas negociações com o mercado e seus porta-vozes e zelar por um mínimo de equilíbrio das contas públicas, destroçadas pela farra eleitoreira de Bolsonaro.
O que Lula fez foi chamar para si a responsabilidade, caso não seja possível zerar o déficit, que é o cenário mais provável. Cabe lembrar, no entanto, que o novo arcabouço fiscal prevê uma margem de tolerância de 0,25% de déficit em relação ao PIB.
Haddad, nesta segunda-feira (30), tratou de jogar um balde de água fria nos que apostavam na deterioração de suas relações com o presidente da República. Além de destacar o compromisso fiscal de Lula, apontou os inúmeros gargalos tributários herdados de outros governos como geradores de enormes prejuízos para a arrecadação do governo e maior ameaça ao déficit zero.
Contudo, o oligopólio midiático reduziu a coletiva do ministro, repleta de temas importantes para a economia do país, a uma simples e medíocre conclusão: "Haddad desconversa sobre déficit zero."
Quem torce contra não tem jeito.