Foto: Ricardo Stuckert
Um governo com o rol de realizações do atual teria o reconhecimento de parcela bem maior da população de qualquer país do mundo do que o registrado pelos recentes levantamentos feitos pelo Datafolha e pelo Ipec entre os eleitores brasileiros.
Viajando no tempo, é possível afirmar que a aprovação de um governo como o de Lula seria mais expressiva caso a sondagem fosse feita há alguns anos.
Vale lembrar que, em seus dois mandatos presidenciais anteriores, Lula, neste mesmo tempo de governo, embora tenha feito menos, ostentava índices maiores de aprovação.
Como entender, por exemplo, o baixo apoio do eleitorado às políticas de geração de emprego e renda, quando as taxas de desemprego são as menores desde 2014?
Como aceitar que a saúde seja a maior preocupação dos brasileiros, se o Ministério da Saúde virou a página do negacionismo e da afronta à ciência e anuncia em sequência ações e programas de grande interesse público?
Citei esses dois exemplos, mas poderia apontar outros, para chegar ao ponto crucial deste artigo: o problema é que os resultados dessas pesquisas acabam sendo deformados em dimensão considerável pela maior doença política do nosso tempo, que é a captura, em larga escala, de corações e mentes pelos valores obscurantistas da extrema-direita.
Não nos iludamos: a máquina de disseminação do ódio, das fake news e das calúnias e difamações segue a pleno vapor, em que pese as condenações dos terroristas de 8 de janeiro e da inelegibilidade de Bolsonaro.
Os fascistas continuam atacando o resultado das urnas e atentando contra o regime democrático a céu aberto. Sem falar que, mesmo diante de tantas evidências e provas de cometimento de crimes, Bolsonaro permanece em liberdade.
A nova tática suja do bolsonarismo agora é mentir um milhão de vezes sobre a ligação da esquerda e do PT com o crime organizado, já que a tentativa de imputar a pecha de corrupta à esquerda se esvaziou depois que Bolsonaro foi flagrado em vários casos de corrupção.
Em discurso na Conferência Eleitoral do PT, o ministro da Secom, deputado Paulo Pimenta, chamou a atenção para as limitações institucionais do governo no que refere à comunicação.
Pimenta tem razão, mas isso não invalida o fato de que, nos dias que correm, não basta apenas a produção de belos materiais de divulgação sobre as realizações do governo.
O buraco é hoje mais embaixo. O fascismo tem base social, política e eleitoral, além de não ter quaisquer limites morais e éticos.
Com parcela expressiva da sociedade envenenada pela retórica da extrema-direita, o governo deve usar a criatividade para incorporar à sua política de comunicação elementos objetivos e subjetivos de enfrentamento ao fascismo, de disputa política com os inimigos da democracia e dos direitos do povo.
Ampliar e desburocratizar o apoio às mídias alternativas é outro caminho importante.
Para muito além do governo, os demais partidos do campo progressista têm papel central nessa luta. O PT não pode insistir no erro cometido em passado recente de se ocupar exclusivamente de questões de governo e eleitorais. Seu tamanho e capilaridade em todo o país são ferramentas imprescindíveis no combate ao extremismo de direita.
Basta vontade política.
Aos movimentos sociais cabe igualmente voltar suas baterias contra as trincheiras do obscurantismo, pois todos seriam levados de roldão em caso de volta do bolsonarismo ao poder.
Vale a pena prestar atenção no alerta feito pelo ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, durante a Conferência Eleitoral do PT. Ao discordar da tese segundo a qual a extrema-direita não tem projeto de país, o ministro foi taxativo: "Tem sim, o projeto da extrema-direita é destruir o mundo."