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O primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva termina com perspectivas bastante otimistas tanto no campo econômico como no campo político, e os prognósticos para o ano de 2024 têm sido igualmente otimistas.
Dois economistas ouvidos pelo Jornal GGN traçam seus respectivos balanços para o cenário econômico brasileiro no ano de 2023, com destaque para a melhora de indicadores como o índice de desemprego, além das vitórias governistas no Congresso que ajudaram a aprovar medidas como a reforma tributária e o arcabouço fiscal.
“Havia muita dúvida da capacidade do governo e também houve um início de ano, né, uma demora em sinalizar qual seria o plano fiscal para retomar o equilíbrio”, diz o economista, lembrando ainda das turbulências vistas pelo mercado internacional diante dos problemas de liquidez de grandes instituições financeiras na Suíça e nos Estados Unidos.
Campo político
No campo político, Alex Agostini diz que “o governo teve algumas boas vitórias, algumas poucas derrotas – isso faz parte do circo político, mas no todo eu acho que o governo sai o primeiro ano bastante vitorioso tanto no campo político como no campo econômico”.
Alguns dos destaques no campo político econômico envolvem a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária (esta, após 30 anos de debates), em trâmites que foram considerados grandes vitórias do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do governo federal.
Pelo lado da política monetária, Agostini diz ainda que a queda de braço entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi “lamentável” por parte de Lula e que, no final das contas, “podemos comprovar que o presidente do Banco Central estava correto em manter uma política monetária austera (…)” por conta da taxa de inflação.
Dúvidas no campo fiscal
O economista lembra que havia muita dúvida sobre a capacidade do governo em lidar com as questões fiscais, principalmente por conta da demora em sinalizar qual seria o plano fiscal adotado pela equipe do Ministério da Fazenda para sair do déficit e retomar o equilíbrio.
“Se eu não me engano, em abril foi anunciado o arcabouço fiscal, que substituiria o teto de gastos. (O anúncio) foi muito bem recebido pelo mercado, foi aprovado pelo Congresso Nacional”, lembra Agostini. “Em junho, o governo também conseguiu aprovar o texto base da reforma tributária”.
Tais movimentações ajudaram o governo brasileiro a ver suas notas de classificação de risco melhorarem junto às principais agências de rating do mundo, como a Standard & Poor’s e a Fitch Ratings.
Na questão da taxa de câmbio, Agostini aponta uma “melhora importante”, com a definição da taxa de juros nos Estados Unidos em patamar estável por mais algum tempo, além da perspectiva de queda da Selic no próximo ano.
“Aqui dentro, os fundamentos superaram as expectativas de mercado então o câmbio/o Real voltou a se fortalecer. Isso é importante porque ajuda a manter por exemplo uma perspectiva positiva para futuras reduções do preço da gasolina”, diz o economista.
“E isso tem um impacto positivo no sentido de reduzir a inflação, e que por sua vez mantém aquele cenário de queda dos juros, né? Ou seja, no final das contas, nós estamos encerrando 2023 muito melhor do que começamos em termos econômico e político, e criamos boas perspectivas para 2024”, ressalta Agostini.
Cálculos positivos
Como resultado das medidas adotadas pelo governo federal ao longo deste ano, Fernando Nogueira da Costa, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e articulista do Jornal GGN, elaborou uma série de cálculos para analisar o ano de 2023 em termos econômicos.
A começar pela inflação brasileira: o total acumulado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2023 até o mês de outubro foi de 3,75%, enquanto o IPCA acumulado nos últimos 12 meses atingiu de 4,82% contra o IPCA acumulado de 2022 de 5,78%.
No ano corrente, os dados da inflação brasileira chegaram a patamar semelhante ao visto no Uruguai (4,96%), Peru (3,64%), México (4,26%), e fica abaixo da Colômbia (10,48%).
“Foram superados os problemas de quebra das cadeias produtivas e comerciais globais, devido ao distanciamento social causado pela pandemia”, disse Nogueira da Costa, ressaltando que os dados no comparativo com o BRIC ficaram abaixo da abaixo da Rússia (6,7%), igual à da Índia (4,87%) e acima da inflação na China (-0,2%).
Quanto ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, houve crescimento em todos os trimestres, chegando a 3,1% no terceiro trimestre de 2023. O crescimento econômico no Brasil acompanha o consumo das famílias (62% do PIB) e dos serviços (67% do valor adicionado).
Nas atividades econômicas, a taxa (%) acumulada nos últimos quatro trimestres (contra os quatro trimestres imediatamente anteriores) foi de 2,8% em Serviços, diante 14,4% em Agropecuária (6,7% do VA) e 2% na Indústria (26,3% do VA).
Na análise da demanda, o professor da Unicamp diz que a Despesa de Consumo das Famílias cresceu 3,7%, a Despesa de Consumo do Governo teve alta de 1,0% e a Formação Bruta de Capital Fixo caiu 1,1%. Já no âmbito externo, as Exportações de Bens e Serviços (10,3%) cresceram enquanto as Importações de Bens e Serviços (-0,1%) apresentaram variação negativa no período.
Já a taxa de desemprego caiu para 7,6% no trimestre móvel encerrado em outubro de 2023, abaixo do mesmo período de 2022 (8,3%), segundo a PNADC-IBGE.
”Trata-se da menor taxa de desemprego para o trimestre encerrado em outubro, desde 2014, quando estava em 6,7%. Chegou a 13,9% em março de 2017 e atingiu 14,9% em março de 2021”, afirma Nogueira da Costa, ressaltando que o número de trabalhadores ocupados no país ultrapassou pela primeira vez a marca de 100 milhões, recorde na série histórica, enquanto os brasileiros desocupados diminuíram para 8,3 milhões.
Prognósticos para 2024
Quanto às perspectivas para a economia brasileira em 2024, Agostini diz que os movimentos adotados pelo governo e a melhora de diversos indicadores levaram a “boas perspectivas” para o próximo ano.
Contudo, Fernando Nogueira da Costa é mais cauteloso. “Minha expectativa para o próximo ano é todos os economistas previsores em nome de O Mercado, mais uma vez, errarão em suas previsões de ano novo. Afinal, há uma contradição lógica nesse ente sobrenatural adorado pelos neoliberais: apesar de ser onipresente, não pode ser ao mesmo tempo onipotente e onisciente!”
“Se O Mercado soubesse a respeito do futuro incerto, devido a ser resultante de decisões descentralizadas, descoordenadas e desinformadas umas das outras (mesmo porque decisões cruciais ainda não foram tomadas), seria onisciente. Porém, deixaria de ser onipotente por não ter o poder de mudança do antes anunciado…”, pontua o professor da Unicamp.