Laura Lescano/Télam
Atônito com o resultado da eleição argentina, naquele fatídico domingo em que a tragédia se consumou, tentei examinar com lupa a votação final em busca de alguma esperança de resistência ao rolo compressor que estava por vir.
Enxerguei nos 45% de eleitores que votaram no peronista Sérgio Massa um motivo de preocupação para Milei. É que neste contingente se encontram milhões de pessoas com alto nível de consciência política e experimentados em protestos e mobilizações de rua, que são tradicionais no país vizinho e marcam sua história.
E, menos de um mês depois de sua posse, o fascista lunático teve que amargar nesta quarta-feira (3) a decisão da Câmara Nacional do Trabalho, a Justiça do Trabalho deles, de suspender a parte do Decreto de Necessidade de Urgência (DNU) que afetava os direitos dos trabalhadores.
A proteção fora solicitada pelos sindicatos. A Central Geral dos Trabalhadores (CGT) comemorou, mas confirmou a greve geral marcada para 24 de janeiro.
Tem um inegável peso simbólico o fato de a primeira derrota ter sido imposta pelos trabalhadores, através de suas entidades representativas. Politicamente, do ponto de vista da esquerda e dos setores progressistas, é bem-vindo o protagonismo da classe trabalhadora no movimento de resistência, embora, por óbvio, a frente de luta deva ser a mais ampla possível.
Mas não há dúvida de que os mais prejudicados pela tentativa insana de Milei de destruir o Estado argentino, levando de roldão direitos e conquistas da sociedade e reduzindo a pó a proteção social, serão os que vivem do trabalho. E a decisão da Justiça é um combustível a mais para o sucesso da greve geral do dia 24.
O problema de Milei é o tamanho da parcela da população disposta a enfrentá-lo. E não teve esta história de trégua e silêncio obsequioso em relação a governo recém-empossado. Das primeiras horas depois de anunciar o pacote até hoje, Miliei não teve paz.
E nem terá. Parte expressiva do povo está na rua e não parece disposta a sair. Já é a segunda semana dos "cacerolazos", que é como eles chamam os panelaços, aliás, uma modalidade de protesto criada pelos próprios argentinos.
Ontem, depois do revés judicial de Milei, uma nova onda de "cacerolazos" tomou conta da Grande Buenos Aires. Vendo as imagens, um cartaz me chamou especial atenção: "Lixo Miliei, você é a ditadura. Quando você vai embora?"
É isso.