Segundo o jornal O Valor, o “grande enigma” para os economistas ortodoxos é o fato da inflação ter caído sem recessão.
Os economistas passaram os últimos meses de 2023 investigando um enigma: a inflação caiu bastante, bem mais do que se previa, sem uma recessão. Agora que começa um novo ano, ainda não há uma resposta consensual para esse mistério, e ele deverá pautar o ritmo e o tamanho dos cortes de juros pelo Banco Central em 2024.
É inacreditável a incapacidade de fugir dos padrões habituais de análise.
Esta semana publiquei declarações de James Kenneth Galbraith sobre esse padrão extraordinariamente emburrecedor da análise econômica do mainstream:
“Na medicina moderna, um diagnóstico específico leva a um tratamento específico. Mas esse não é o caso da economia moderna. Em vez disso, a ausência de uma sequência ordenada no episódio recente lembra a abordagem medieval da medicina, segundo a qual todas as doenças resultavam de um desequilíbrio dos quatro ‘“’humores’ corporais. E, como na medicina pré-moderna, o tratamento é sempre o mesmo, independentemente da natureza do desequilíbrio humoral. Os médicos medievais tiravam sangue; os banqueiros centrais modernos aumentam as taxas de juro”.
Perderam totalmente a capacidade básica de qualquer analista econômico: a observação empírica, a análise da realidade. Criam um mundo à parte, enfiam-se em suas bolhas teóricas, como se a teoria tivesse vida própria, independente da realidade.
Os dados estão todos à vista, explicando cada ponto de dúvida, como lembrou o economista André Nassif.
1. Não houve recessão porque a PEC da Transição permitiu um choque fiscal na economia, que amorteceu os efeitos dos juros do Banco Central.
2. A inflação caiu porque não se devia a fatores internos, mas a aumentos de preços internacionais decorrentes da guerra da Ucrânia. Ou seja, era um choque de oferta. Bastou os preços internacionais refluírem para a inflação baixar em todos os países.
Como tratar como “mistério” um fenômeno com explicações tão óbvias?