Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A Confederação Brasileira de Futebol é uma entidade privada, mas suas atividades são de interesse público. Quem dera, porém, que seus dirigentes do presente e do passado tivessem alguma noção do que significa interesse público.
Hoje entronizada na condição de símbolo nacional da ineficiência, da incompetência e da corrupção, a CBF faz o futebol brasileiro descer ladeira abaixo de forma jamais vista. Exemplo de esculhambação, a confederação conseguiu a proeza de reduzir a pó a paixão dos brasileiros pela seleção canarinho.
Sem falar que sua camisa verde e amarela virou o uniforme oficial dos fascistas nativos. Mas isso é outra história.
Outrora motivo de orgulho nacional, respeitada e admirada em todo o mundo, mercê de suas conquistas dentro de campo, a seleção brasileira, hoje time da CBF, é vista com indiferença e desdém por parcela expressiva dos torcedores. Também não são poucas as pessoas que torcem contra.
Não resta dúvida de que jogadores milionários e alienados, que vivem fora do país e se lixam para os nossos problemas, também fazem sua parte no processo de descrédito da nossa seleção. Contudo, a CBF, antro do que há de pior e mais atrasado em termos de gestão administrativa e esportiva, responde em maior grau por este distanciamento.
Um retrato em preto e branco do descalabro atual: a seleção está em sexto lugar nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, a ser disputada em 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México. Vai se classificar, claro, pois, no modelo de disputa vigente, até o Mambala Futebol Clube e o Arranca Toco Esporte Clube beliscariam uma vaguinha.
Mas até há alguns dias o treinador da seleção era interino, enquanto o presidente da confederação, Ednaldo Rodrigues, antes de ser afastado pela justiça (acaba de retornar a bordo de uma liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes) enganava a galera e a imprensa afirmando que Carlo Acelotti, consagrado técnico italiano, estava a caminho.
Depois que Ancelotti, em demonstração de juízo, renovou seu contrato com o Real Madrid, a CBF, agindo com a baixeza que lhe é peculiar, demitiu o interino Fernando Diniz e trouxe Dorival Júnior. Imaginei que do alto de seus cabelos brancos Dorival se negaria a trocar seu ótimo trabalho no São Paulo pela aventura da seleção brasileira. Enganei-me, mas acho que a chance dele, ou qualquer outro treinador, dar com os burros n'água na seleção é grande.
Algumas perguntas estão há tempos sem resposta: 1) Por que a CBF se arvora no direito de ser proprietária de um bem público, que é a camisa da seleção brasileira? É justo que a CBF ganhe montanhas de dinheiro explorando esta marca? 2) Até quando os maiores times brasileiros, verdadeira razão de ser da paixão pelo futebol, vão se deixar manipular pela CBF? 4) Não chega mesmo ser falta de vergonha na cara a não criação de uma liga nacional unificada de clubes?
Merece registro o sistema eleitoral absurdo em vigor na CBF, para a eleição do presidente da entidade. O voto das federações tem peso 3, enquanto o dos clubes da Séria A possui peso 2. Já os clubes que disputam a Série B têm peso 1. Ou seja, o voto das federações do Acre e do Piauí (com todo o respeito que esses estados merecem, mas são de pouquíssima tradição no futebol), por exemplo, vale mais do que o do Corinthians Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Botafogo, Vasco, Fluminense, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio e Internacional.
Não é piada, é sério. Chega a ser inacreditável que os clubes se submetam a tamanha humilhação.
Não há saída possível para a CBF. Ela tem que acabar. Chegou a um ponto de não retorno em termos de degradação esportiva, administrativa, moral e ética. Já passou da hora de os clubes tomaram as rédeas de seus destinos e deixarem a CBF morrer por inanição.
Não deixará saudades.
Por fim, um breve resumo dos presidentes da CBF nas páginas policiais:
Ricardo Teixeira - Banido do futebol pela Fifa, responde a vários processos. Leva uma vida de rico, no condomínio Sunset Island, na baía de Biscayne, em Miami.
José Maria Marin - Depois de ser preso na Suíça, no escândalo Fifagate, cumpriu pena nos EUA. Também foi bandido do futebol.
Marco Pólo Del Nero - Outro banido do futebol, depois de ser considerado culpado pela Fifa por suborno e corrupção, além de oferecer ou aceitar presentes e benefícios.
Rogério Caboclo - Afastado da presidência da CBF por assédio moral e sexual, denunciado por sua secretária.