Durante as investigações, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que o ex-presidente sequer estava em São Paulo no dia da suposta vacinação - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O registro de vacinação no cartão do ex-presidente Jair Bolsonaro é falso, concluiu a Controladoria-Geral da União (CGU). As investigações apontam fraude ao sistema estadual (em São Paulo) de registro de vacinação contra a covid-19. Ao mesmo tempo, não foram identificados responsáveis. Segundo a CGU, as conclusões serão encaminhadas às autoridades do município e do estado de São Paulo.
A apuração começou a partir de pedido de acesso à informação ao Certificado Nacional de Vacinação Covid-19 (CNVC), no final de 2022, com base na Lei 12.527, de 2011 (Lei de Acesso à Informação). Informações enviadas pelo Ministério da Saúde tinham “inconsistências nos registros”, o que motivou o processo de apuração. Para, lembra a CGU, “verificar o possível envolvimento de agentes públicos federais”.
Possível esquema de fraude
Assim, de acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, no cartão nacional de vacinação do ex-presidente há um registro de 19 de julho de 2021, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque Peruche, na zona norte da cidade de São Paulo. “No entanto, outros dois registros de imunização, que teriam se dado em Duque de Caxias (RJ), haviam sido efetuados por agentes municipais, mas cancelados antes mesmo do início das investigações pela CGU.”
Em relação a esses últimos, auditores verificaram a existência de possível esquema de fraude a cartões de vacinação, envolvendo o secretário municipal de governo. Isso deflagrou a Operação Venire, da Polícia Federal. Revelou-se, então, ligação de agentes públicos federais e municipais com essa equipe. E também do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, que foi preso preventivamente, em maio do ano passado, devido à falsificação da carteira de vacinação de Bolsonaro.
Nem estava em São Paulo
Durante as investigações, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que o ex-presidente sequer estava em São Paulo no dia da suposta vacinação. Segundo a CGU, ele teria voado para Brasília um dia antes “e não teria feito nenhum outro voo até pelo menos dia 22/07/2021”.
“Além disso, foram levantadas informações sobre o lote da vacina contra a Covid-19 que teria sido aplicada no ex-Presidente da República. Os dados deram conta de que tal lote não estava disponível, naquela data, na UBS paulista em que teria ocorrido a imunização”, informa a CGU. Durante meses, a Controladoria ouviu funcionários da UBS Parque Peruche, inclusive a enfermeira que teria aplicado a vacina em Bolsonaro. Além de negar o procedimento, ela informou que nem trabalhava mais no local naquela data, o que foi confirmado em outros depoimentos.
Nenhum registro da presença do ex-presidente
“Também foram feitas oitivas de funcionários em serviço na UBS no dia 19/07/2021, mas todos negaram ter visto o ex-Presidente da República no local. Da mesma forma, negaram conhecer qualquer pedido feito para registrar a imunização do então Chefe do Poder Executivo”, afirma ainda a CGU. “Os depoimentos foram corroborados pela análise dos livros físicos mantidos pela UBS para registro da vacinação da população. Não foi localizado, nos papéis relativos ao dia 19/07/2021, a presença do ex-Presidente no local para se imunizar.”