Foto: Marcos Corrêa/PR
A operação "Tempus Veritatis", que expôs ao Brasil uma enorme gama de evidências, indícios robustos de prova e provas materiais em profusão contra Bolsonaro e seus formuladores e operadores golpistas, também teve como efeito colateral sepultar de vez os restos mortais da Lava Jato.
Nem é preciso ser da área do direito para perceber a diferença gritante de métodos entre o que se vê hoje no Brasil e o que ocorria em passado recente, quando a violação de direitos era aplaudida por amplos setores da sociedade.
A polícia judiciária atual segue o manual básico do estado de direito democrático, que é usar delações, como a do tenente-coronel Mauro Cid, como ponto de partida. Coisa bem simples: a partir do conteúdo da delação, os investigadores entram em campo para corroborar ou não, através da obtenção de provas, a veracidade da colaboração.
Modus operandi diametralmente oposto ao da República de Curitiba, que prendia suspeitos por tempo indeterminado, providenciava logo condenações de prisão por longos anos em primeira instância, submetendo o réu a uma espiral de tortura psicológica e desalento que o fazia delatar.
Mas não era qualquer delação. Tinha que envolver os inimigos da Lava Jato, leia-se líderes da esquerda brasileira, ou empresários sobre os quais se pudesse imputar ligações não republicanas com integrantes do Partido dos Trabalhadores e aliados.
Aí girava a roda da aberração processual: as revelações dos "colaboradores" bastavam para se efetuar novas conduções coercitivas, prisões e condenações, na imensa maioria dos casos sem quaisquer elementos de prova.
Com forte apoio midiático da classe média lacerdista de sempre e até do povão submetido a um massacre de informações fraudulentas, Moro e os procuradores de Curitiba sequer se davam ao trabalho de aprofundar investigações. A mera citação em uma delação pavimentava o caminho para a cadeia.
Deu no que deu., mas hoje a banda toca outra música.
Mauro Cid revelou para os federais que Bolsonaro tramava o golpe com as cabeças coroadas de seu governo?
A PF conseguiu um vídeo no qual o ex-presidente e a cúpula de seu governo tratavam da dinâmica do golpe.
Cid revelou a participação de militares de alta patente nas articulações golpistas?
A PF obteve troca de mensagens em que fardados da ativa e da reserva conspiram de forma escrachada a destruição do regime democrático, além de pressionarem e ameaçarem os comandantes legalistas.
Cid forneceu mais detalhes sobre a minuta do golpe?
A PF correu atrás e conseguiu provas de que, além do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, também Filipe Martins, então assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro, teve papel destacado na circulação do documento.
Cid abriu o jogo a respeito dos planos para prender autoridades, como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco?
O confisco do celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não só confirmou a trama de submundo, como mostrou que os passos de Moraes foram monitorados.
E vem muito mais por aí.