Foto: Zeca Ribeira/Câmara dos Deputados
Se você quiser saber a previsão de uma votação importante no Congresso Nacional, sugiro que aposte no resultado oposto ao projetado pelos repórteres e comentaristas da GloboNews.
A barriga da emissora no episódio da votação da manutenção ou não da prisão do deputado Brazão, um dos acusados de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson, foi constrangedora, coisa capaz de provocar vergonha alheia.
Depois de despachar praticamente todo seu time de jornalistas de política para Brasília, para cobrir a votação que decidiria o destino de Brazão, a GloboNews passou 48 horas a apregoar os seguintes consensos entre seus profissionais:
1) O clima pró-prisão arrefecera em duas semanas, pois muitos deputados viam na decisão a ser tomada uma oportunidade de ouro para mandar um recado e afrontar o ministro Alexandre de Moraes.
2) Estava em curso a poderosa articulação de uma operação casada que libertaria o parlamentar, mas cassaria seu mandato, dando uma satisfação à opinião pública, em algo do tipo assopra e morde.
3) Os partidos de esquerda e aliados que defendiam a continuidade da prisão não conseguiriam obter os 257 votos necessários, pois o Centrão e a extrema-direita lideravam um movimento para esvaziar a sessão. Com isso, o quórum seria baixo e Brazão teria a prisão relaxada.
4) Depois que as lideranças do governo Lula entraram em campo para pedir o voto sim, a questão se complicou, uma vez que ganhou a conotação de confronto entre governo e oposição, em um Congresso de maioria conservadora.
Trocando em miúdos, o telespectador menos familiarizado com os meandros da política, ou seja, grande parte das pessoas, ao deparar com o noticiário, saia com a certeza de que Brazão estava na iminência de ser libertado.
Com a vitória do sim, os "especialistas" em política do canal logo trocaram seus sorrisos amarelos por uma justificativa que é um verdadeiro monumento à desinformação, repetindo sem parar que o placar de 277 a 129 tinha sido apertado.
Apertado? Como assim?
O sim teve mais do que o dobro de votos do não. Uma coisa é o regimento que exige um mínimo de 257 votos para a aprovação de matérias deste tipo. Outra bem diferente é não levar em conta a manifestação amplamente majoritária dos deputados e deputadas pela prisão.
Por horas a fio depois de encerrada a votação, a informação repetida como um mantra pela GloboNews era de que a prisão fora confirmada por uma diferença de 20 votos, o que não é verdade.
E veja como isso é assimilado pela população. Ouvi em um boteco da esquina o seguinte diálogo:
"Viu a votação da prisão do tal do Brazão?"
"Sim, vai continuar preso, mas foi por pouco, acho que só por 20 votos, 220 a 200, parece."
E está longe de ter sido a primeira vez que o jornalismo da Globo apresentou ao distinto público suas previsões furadas. No começo de 2023, na eleição para a presidência do Senado, inventou uma disputa acirrada, voto a voto, entre Rodrigo Pacheco e o bolsonarista Rogério Marinho. Placar: Rodrigo Pacheco 48 x 32 Rogério Marinho.
Sob o signo da mediocridade do seu jornalismo de fofoca, a imprensa comercial confunde sua torcida para que o governo federal tenha o máximo possível de reveses com a realidade dos fatos.
Não podem reclamar quando o bravo Luis Nassif dispara: "são jornalistas do Centrão."