A exploração política até o talo das divergências entre o governo Lula e o Congresso Nacional tem sido o prato predileto da Globo e congêneres. Tudo com a máxima amplificação e um climão de fofoca em vez de jornalismo.
Até a semana passada, o alvo principal era o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política. Mas, desde que o governo conseguiu no STF restabelecer a oneração das prefeituras e dos 17 setores da economia beneficiados com a desoneração, a artilharia se voltou também para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O X da questão neste e em outros casos que opõem o governo e o parlamento é que a imprensa corporativa esconde onde estão o interesse público e o compromisso republicano. Como os grupos de comunicação estão entre os 17 setores da economia contemplados com a desoneração, eles não informam que estudos de instituições respeitáveis mostram que a geração de empregos por parte desses segmentos (principal argumento dos que defendem a desoneração) tem se mostrado uma falácia ao longo dos últimos anos.
Outros exemplos da manipulação semelhantes:
1) Quando a maioria conservadora e reacionária do Congresso Nacional aprova o marco temporal, a mídia diz que o grande derrotado foi Lula. Mas quem perde de fato é a sociedade com o roubo dos direitos dos povos originários, um retrocesso civilizatório com impacto inclusive ambiental, que desgasta a imagem do país perante o mundo.
2) Quando os presos perdem o direito à ressocialização com o fim das "saidinhas", o revés é do governo e das forças de esquerda. Na verdade, as consequências desastrosas dessa decisão recairão sobre a população, na medida em que mantém ao alcance das facções que comandam os presídios um contingente cada vez maior de detentos.
3) Quando o Senado aprova uma PEC criminalizando o porte de qualquer quantidade de maconha, outra vez vem a mesma ladainha midiática: perderam os ministros do STF, o campo progressista e os defensores do respeito aos direitos humanos. A realidade, porém, é outra: a conta será paga por pobres e negros das favelas e bairros periféricos, que continuarão engrossando a terceira maior população carcerária do planeta.
O truque do noticiário é camuflar de que lado está a real demanda da sociedade e criar uma falsa equivalência nas quedas de braço entre o governo e deputados e senadores do Centrão e da extrema-direita.
Por falar em Centrão, dia desses me chamou a atenção a deferência como Arthur Lira foi tratado nos estúdios da GloboNews, onde comparecera para conceder uma entrevista. Era "presidente" para cá, "presidente" para lá, parecia um estadista sendo ouvido por repórteres-admiradores.
Em nenhum momento foi apertado com perguntas que pudessem lhe provocar algum embaraço. Nem mesmo temas básicos, como o apetite insaciável do Centrão por verbas e cargos e a montanha de dinheiro sem controle das emendas parlamentares, mereceram ser mencionados.
Será que depois de tantas tentativas frustradas de emplacar uma terceira via (Dória, Moro, Eduardo Leite, Ciro, Simone Tebet, etc) a Globo resolveu apostar suas fichas em Lira e no Centrão?
Quem viver, verá.