As loas dos editoriais da Folha e do Estadão ao governador Tarcísio de Freitas são a demonstração cabal do nível de emburrecimento a que chegou a antiga opinião pública esclarecida.
Para conquistar esse apoio, Tarcísio precisou apenas do anti-lulismo radical dos jornais paulistas, de declarações vazias – sobre aumento da eficiência com cortes de gastos -, e investidas contra a Casa do Menor e a Fundação Padre Anchieta, depois de ter desistido de cortes nos orçamentos das universidades estaduais e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
É de uma burrice monumental.
Esses editorialistas não têm a menor preocupação em analisar o desempenho administrativo de Tarcísio, como se o anúncio de corte, por si, legitimasse o gestor. Não analisam os impactos nos setores cortados, indicadores de eficácia mínimos, os planos de investimento. Agem por impulso, como os ratos de Pavlov, sem um mínimo de capacidade de análise como se corte de despesas, em si, fosse indicador de eficiência.
A Polícia Militar paulista está sendo transformada em milícias, os massacres se multiplicam por todo o estado, o sistema escolar está ameaçado por essa loucura das escolas militares, ciência e tecnologia sob ameaça constante. Nada disso importa, desde que o governante escanda as palavras mágicas: corte de gastos.
É muita ignorância, aceitável para cidadãos sub-informados. Mas como é possível esses conceitos brandidos por editorialistas daqueles que, em outros tempos, foram os dois principais veículos de comunicação do país?
Um jornal que se preze deveria se fundar em indicadores de desempenho, em estatísticas, em métricas capazes de permitir a avaliação técnica de gestões municipais. Mas qualquer administrador, por mais medíocre que seja, será consagrado se pronunciar as palavras mágicas de cortes, de desprezo pelos bens públicos e, de preferência se se dispuser a bancar matérias.
Tarcísio assumiu o governo com um caixa fornido, fruto da transferência de tributos do governo federal durante a pandemia. Antes disso, passou pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), deixando um rastro de negócios obscuros. Depois, tornou-se Ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, em uma das gestões mais medíocres da história moderna. Em 2022, 66% dos 110.333 km avaliados pela Confederação Nacional dos Transportes foram classificados como “regulares, ruins ou péssimos”. Apenas 8,9% das pistas estavam em perfeito estado, contra 91,1% apresentando defeitos.
Indague dos bravos editorialistas de ambos os jornais, qual o projeto de Tarcísio para o estado, além da privatização selvagem dos serviços públicos. Se quiserem ir pouco além do terraplanismo ideológico, procurem saber porque Berlim reestatizou sua empresa de águas, assim como cidades espanholas entre 2015 e 2018 e Amsterdã em 2019.
Não há a menor ideia sobre as características das empresas públicas e privadas, e quais setores são mais adequados para cada uma; nenhuma preocupação sobre o resultado final para a população, nada, apenas sopa de ideologismo rasteiro.
E é assim que tentam emplacar o neobolsonarismo de Tarcísio. Mais à frente, quando se completar a milicialização da PM paulista, multiplicarem-se os massacres, explodirem os problemas ambientais, sem que haja uma ação preventiva por parte do governo, tratarão cada problema sem apontar as razões originais: sua cumplicidade com um governador inepto e irresponsável, cujas duas únicas características visíveis é de estimular massacres e privatizações selvagens.