Sei perfeitamente que partidos são essenciais à democracia e que a primeira coisa que os regimes ditatoriais fazem é calar e fechar os partidos. Nada contra também que as mais de 30 agremiações partidárias tenham espaço para veicular seus programas e realizações.
Para evitar mal-entendidos, esclareço que não me refiro à propaganda eleitoral no TV, restrita aos períodos eleitorais, mas sim aos programas dos partidos, previstos na Lei 14.291/2022, que reestabeleceu a propaganda partidária que havia sido extinta em 2017.
Mas algumas perguntas não querem calar:
1) Em que que medida a overdose de spots partidários no intervalo da programação das emissoras de TV contribuem para propagar o ideário dos partidos?
Certamente, nenhuma.
2) Quantas eleitores se sensibilizam pelo jargão presente em todas as veiculações partidárias, o tal do "Filie-se ao partido X?"
Muito provavelmente, nenhum. É inimaginável que um telespectador, depois de assistir a uma dessas peças, decida se filiar no dia seguinte.
É importante ressalvar que os partidos do campo progressista apresentam conteúdos com mais nitidez político-ideológica, mostrando mais coerência com sua prática. No entanto, acabam sendo tragados pela geleia geral de baixo nível que marca a imensa maioria.
Com frequência, os eleitores são tratados como se idiotas fossem pelo desfile constrangedor de políticos, no qual muitos assumem a paternidade de projetos e ações que não seus, prometem as chaves do paraíso e fazem promessas absolutamente irrealizáveis.
Fora a vanguarda política do país, familiarizada com os meandros e nuances da vida partidária, duvido que o brasileiro médio seja capaz de perceber alguma diferença entre as siglas. E haja demagogia! Na noite desta quinta-feira (30), um prefeito de uma cidade do interior de Alagoas se gabava de ser o autor original da ideia do programa Pé de Meia do governo federal.
É um vale tudo em que o que menos importa é o respeito pelos fatos e pela realidade. Impossível acreditar que esse autêntico show de horrores contribua de alguma forma para o fortalecimento da nossa democracia. Ao contrário, ajuda a degradá-la.
Estabelecer uma linha divisória entre democracia e democratismo não é fácil em um país com rala consciência política como o Brasil.
Não tenho a pretensão de apresentar uma proposta alternativa ao modo como os partidos se apresentam hoje à sociedade.
A corrente favorável à manutenção desse status quo é poderosa. Mas é urgente iniciar essa discussão.