Foto: Ricardo Stuckert
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, nesta segunda-feira (8), da reunião da Cúpula do Mercosul, em Assunção, no Paraguai, ocasião em que aproveitou o discurso para repercutir os principais fatos da política mundial, além de estimular, cada vez mais, a união do bloco econômico.
Lula lembrou a recente tentativa de golpe de Estado na Bolívia e no Brasil, além de ressaltar que os países latino-americanos deveriam permanecer vigilantes.
“A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização do seu povo e ao rechaço da comunidade internacional. O Mercosul permaneceu mais uma vez unido em defesa da plena vigência do estado de direito, consagrada no Protocolo de Ushuaia. A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região”, disse o presidente
O chefe de Estado brasileiro ressaltou ainda que “falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários” e que, enquanto a região seguir como uma das mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. “Democracia e desenvolvimento andam lado-a-lado.”
Desenvolvimento
Em relação às constantes pressões recebidas do mercado financeiro e da imprensa pelo déficit zero, Lula aproveitou a oportunidade para reafirmar que “os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para a humanidade”, além de exaltar o valor do estado como planejador e indutor do desenvolvimento da América Latina.
O presidente brasileiro também apontou que, nos últimos anos, conflitos alheios à região se sobrepuseram à vocação continental pela paz e pela cooperação.
“Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria. Num contexto de acirramento da competição geoestratégica, a questão que se impõe é se nossos países querem se integrar ao mundo unidos ou separados. Não vejo contradição entre participar da economia global e cooperar entre vizinhos”, emendou Lula.
Outro ponto evidenciado ao longo do discurso foi o potencial do bloco econômico. Desde a criação, há 33 anos, o comércio intercontinental se multiplicou dez vezes e, atualmente, está na faixa dos US$ 49 bilhões (o equivalente a R$ 268 bilhões).
Energia
Lula aproveitou o espaço ainda para ressaltar a importância da adesão da Bolívia ao Mercosul, uma vez que o país se mostrou um grande ator no contexto da transição energética.
“Somos ricos em recursos minerais e possuímos abundantes fontes de energia limpa e barata. Temos tudo para nos tornar um elo importante na cadeia de semicondutores, baterias e painéis solares. Podemos formar uma aliança de produtores de minerais críticos para que os benefícios do processamento desses recursos fiquem em nossos países”, disse.
Por fim, Lula defendeu a governança regional de dados para garantir a soberania dos países e o desenvolvimento da Inteligência Artificial, exaltou as parcerias do bloco com Singapura, Emirados Árabes e Palestina e agradeceu o apoio dos países vizinhos diante da calamidade resultante das enchentes no Rio Grande do Sul.
“Só não concluímos o Acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, justificou o brasileiro.