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A Federação do Comércio e a taxa Selic

Set 13, 2024

Por Luis Nassif, no Jornal GGN                                                                                                                            

 

Os economistas da Federação do Comércio de São Paulo decretam: a seca, o mercado aquecido, as taxas baixas de desemprego indicam necessidade de aumento dos juros na próxima reunião do Copom.

Como as taxas de juros irão combater o choque de oferta dos alimentos?

Simples: reduzirão o movimento do comércio, obrigando indústrias e comércio a reduzirem o preço. Mas não afeta nem um centavo no preço dos alimentos. O dinheiro dos consumidores será transferido para os bancos – através do aumento do spread bancário – e para o capital financeiro, através do aumento de custo da dívida pública. Graças ao aumento da Selic – e ao endosso dos economistas da Fecomércio – mais dinheiro sairá do consumidor, do comércio para encher as burras dos financistas.

Deu para entender o peso da ideologia na construção da estagnação da economia?

Economistas ligados a todas as federações e confederações da economia rural deveriam, a esta altura, estar questionando o uso exclusivo dos juros para conter a demanda, sob qualquer pretexto. Deveriam estar mostrando a seus associados que aumento dos juros para compensar aumento dos alimentos, fará mais uma vez comércio e indústria pagarem a conta da inflação. E, a partir dessa tomada de consciência, deveriam montar grupos de discussão para questionar o modelo de metas inflacionárias e discutir alternativas.

Mas nada disso ocorre. O economista, o jornalista econômico, o jornalista financeiro, a liderança do comércio ou da indústria precisam mostrar que estão em linha com os bordões do mercado. E ressaltar que a única maneira de reduzir a gastança financeira seria com os cortes na “gastança” do orçamento. Mesmo que a “gastança” do governo retorne para a economia real – isto é, para comércio, indústria e agricultura – através de investimentos em infraestrutura (alimentando a construção civil), melhoria da renda da classe D (alimentando o comércio) ou redução expressiva nos financiamentos do BNDES, BB e CEF (alimentando toda a economia real).

Mas não existe mais a economia real. Ou ela está reduzida a empresas com pouco fôlego econômico e pouca influência política. Os grandes industriais e comerciantes de outrora aprenderam que era muito mais tranquilo vender suas empresas e passarem para o time dos financistas: lucro fácil, sem exigir esforço, mentalidade inovadora ou correr riscos.

E tome importados através das plataformas, através dos subsídios que governantes mais espertos dão para seus produtores.

Definitivamente, nos tornamos o país dos rentistas onde o sonho de cada empresário é se tornar um investidor financeiro, e de cada economista do setor produtivo de ser erigido a economista de mercado.

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