Sem malabarismo retórico, a vitória de Evandro Leitão (PT) no 2° turno em Fortaleza se deu a uma ampla aliança que englobou grupos políticos de centro-esquerda e, majoritariamente, de centro-direita.
Sendo assim, a vitória da campanha ‘neopetista‘ na capital com maior PIB do Nordeste foi muito mais pragmática do que ideológica e que por isso não se pode avaliar apenas a “vitória da esquerda“, como alguns analistas apressados – e diria até emocionados – estão dizendo por aí.
A campanha contou com um arco de aliança muito mais amplo que do seu adversário, André Fernandes. Figuras conhecidas da centro-direita local como o deputado federal Luiz Gastão (PSD) – que tem boa interlocução com setores produtivos – apoiaram abertamente a candidatura de Evandro.
Há um consenso nos bastidores de que a gestão de Evandro terá muito mais a agregar para esses grupos políticos do que seria numa eventual gestão bolsonarista.
Diga-se de passagem, a relação entre PDT e PSD começou a azedar depois da derrota de Roberto Cláudio em 1º turno para governador na eleição de 2022.
Naquele pleito, o vice na chapa de RC era o próprio Domingos Filho, que amargou um prejuízo político e financeiro com a candidatura forçada do ex-prefeito. Mas neste ano, o PSD teve um papel chave na eleição de Fortaleza e foi o partido que mais destinou recursos entre as siglas aliadas de Evandro: R$ 3,5 milhões.
Outro ponto importante que nos ajuda a compreender a vitória de Evandro nas urnas foi a mobilização que o senador Cid Gomes (PSB) liderou nos bastidores. Apesar da sua presença tímida na campanha, Cid mobilizou os 62 prefeitos eleitos pelo seu partido nas três semanas de campanha no 2º turno.
No PSB, foram eleitos prefeitos das mais diversas matizes e fez o partido crescer exponencialmente, mostrando que por muitas vezes, a sigla e pouco importa.
Vamos aos números!
Evandro Leitão saiu vitorioso na eleição mais acirrada desde 1988 por uma margem de apenas 10.838 votos, o que pegou de surpresa até mesmo os analistas mais realistas.
Com um total de 716.133 votos, correspondendo a 50,38% dos votos válidos, Leitão obteve a maioria em 7 das 17 zonas eleitorais da cidade. Fernandes, que liderou em 10 zonas, angariou 705.295 votos, representando 49,62% do eleitorado.
André Fernandes também saiu vitorioso nas zonas 93 e 95 que cobrem bairros com índices elevados de pobreza como Jangurussu, Conjunto Palmeiras, Barroso, José Walter e Ancuri.
Esses números mostram, por exemplo, que apesar de ter saído derrotado a figura de André Fernandes saiu bem mais fortalecida para liderar a oposição no estado, deixando para trás figuras carimbadas como o próprio Capitão Wagner (UB), o maior derrotado destas eleições.
E foi na zona 113, que inclui bairros de classe média como Benfica e Parquelândia, que Leitão conquistou uma vantagem de 8.952 votos, o que praticamente contribuiu para sua vitória.
Já zonas como a 082 e 080 também se destacaram pelo bom desempenho de Leitão, com diferenças de 6.340 e 5.377 votos, respectivamente.
Por outro lado, Fernandes encontrou maior sucesso nas zonas onde as disputas foram mais equilibradas. A maior vantagem de Fernandes ocorreu na zona 112, com 52,09% dos votos.
Esta zona abrange áreas mistas (periféricas e de classe média alta) como Jardim das Oliveiras e Engenheiro Luciano Cavalcante. Além disso, na zona 3, que inclui bairros ricos do eleitorado alencarino como Aldeota e Praia de Iracema, Fernandes obteve 51,71% dos votos.