Erro
  • Erro ao carregar arquivo XML
  • https://blogdobepe.com.br/templates/sj_tech/templateDetails.xml
  • XML: failed to load "https://blogdobepe.com.br/templates/sj_tech/templateDetails.xml": No such file or directory

Um mundo em transição e um país em transe

Jun 10, 2025

Por Luis Nassif, no GGN                                                                                                          

 

Foto: Ricardo Stuckert

Há um mundo em transição, com o fim gradativo das diversas formas de articulação do poder da potência maior: os Estados Unidos. O Brasil entra no jogo com inúmeras possibilidades e enormes riscos, já que é uma Nação fraturada.

De um lado, tem-se o governo Lula, empenhado na reconstrução institucional do país, mas com as bolas de ferro do orçamento loteado e das políticas monetária e fiscal impedindo qualquer vôo maior. E sem um projeto claro do novo país a ser desenhado.

De outro, tem-se uma elite e uma mídia que perderam completamente a noção de país. Até os anos 90 era possível encontrar empresários com o objetivo de serem grandes em um país grande. A financeirização da economia e internacionalização do capital transformaram a acumulação financeira em objetivo maior. É um jogo no qual as empresas – especialmente as estratégicas, privatizadas – são tratadas como vacas leiteiras, com a única função de gerar mais e mais dividendos, à custa do sacrifício dos investimentos em inovação, segurança e crescimento. E deixando de lado qualquer preocupação em relação à sua função estratégica. Agora, são investidores do mundo.

Há um esforço individual do MDIC-BNDES, da Fazenda, do Planejamento, do MCTI em montar alguma forma de articulação do desenvolvimento.

Mas, por trás de tudo, há o fantasma das metas inflacionárias, uma excrescência que subordinou totalmente o país aos movimentos do dólar.

Celebra-se, no Banco Central, a política bem sucedida de domar os movimentos especulativos do dólar. Os resultados estão na desaceleração pontual da inflação, dos bens de consumo aos índices de preços no atacado e do consumidor, uma vitória de Pirro, que dará alguns meses a mais de oxigênio à política econômica, mas não resolve a questão central do desenvolvimento.

O modelo de metas inflacionárias e o livre fluxo de capitais amarraram totalmente a possibilidade de um projeto de desenvolvimento.

Deixa-se o câmbio livre, pressionam-se os preços e vende-se a ideia de que apenas elevação de juros segura a inflação.

A elevação de juros aumenta a relação dívida/PIB, com reações das agências de rating, obrigando a mais elevação de juros. É mais do que a maldição de Sísifo, porque cada rodada amplia o sufoco orçamentário e a transferência de renda para o investimento financeiro.

Ao contrário de outros tempos, o aumento dos lucros não leva ao aumento de investimentos. É mera acumulação de riquezas utilizada para arbitragem de taxas e de ativos. Toda a cobertura midiática insiste em não diferenciar o capital financeiro do capital produtivo. E toda a lógica cambial tem como foco exclusivamente o capital financeiro.

O resultado é trágico, porque essa máquina de gerar lucros estéreis tem como epicentro o financiamento da dívida pública. E as soluções de sempre são jogar com o terrorismo fiscal para investir contra Fundeb, Benefícios de Prestação Continuada e outros programas sociais, que tornam minimamente palatável um modelo de capitalismo predatório.

Qualquer tentativa de distribuir migalhas do orçamento para os mais vulneráveis – ou para políticas estruturantes, como educação, saúde – é taxada de “populismo eleitoral” por uma mídia parcial e terrivelmente ignorante.

Com esse jogo do dólar, em vez de investir na ampliação da produção, multinacionais trocam investimento direto por empréstimos matriz-filial, para jogar exclusivamente com arbitragem de taxas de juros e câmbio. A volatilidade do câmbio impede qualquer aumento expressivo do investimento externo na produção, pela dificuldade em estimar a taxa de retorno – já que cada solavanco no câmbio impacta mais os resultados do que a rentabilidade do negócio, em reais. E o lucro das empresas nacionais, em vez de buscar o investimento, busca os ganhos de tesouraria.

Por outro lado, é um enorme desafio mudar o modelo.

A estratégia atual consistiria em administrar as limitações do modelo monetário-fiscal, enquanto se prepara o novo tempo, de transição para uma nova ordem mundial, para moedas alternativas ao dólar e para parcerias produtivas com novas potências.

.O desafio consiste em responder às seguintes questões:

Como estabelecer limites ao livre fluxo de capitais?
Como desestimular a distribuição alucinada de dividendos, induzindo as empresas a aplicar os lucros na produção.
Como reduzir a influência deletéria da volatilidade do dólar nos preços e nas decisões de investimento.
Por outro lado, há pontos essenciais para se chegar aos novos tempos:

Quais serão as condições de parceria com a China, já que o aprofundamento das relações comerciais poderá levar à destruição do que resta de indústrias no país?
Como aproveitar o potencial de terras raras e de minérios, para beneficiamento interno e criação de linhas de industrialização internas e fugir da sina de ser mero exportador de commodities?
Quais as exigências para as multinacionais que irão transferir suas empresas para o país, aproveitando o potencial de energia verde? Quais as garantias de que haverá transferência de tecnologia, joint-ventures com capital nacional, criação de redes de fornecedores nacionais, definição de conteúdo nacional?
Enfim, o país terá que se envolver em uma grande discussão, com os centros de inteligência do governo, da academia, das associações privadas e dos movimentos sociais, para responder ao grande desafio: este país ainda há de cumprir seu ideal, ou se conformará em ser apenas a reprodução digital de um grande cafezal?

Mídia

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


Anti-spam: complete the task

Vídeos