Existe uma máxima romana que levo sempre na mente. “Apresse-se lentamente.” Ela é atribuída ao imperador Otávio Augusto. Aja com reflexão – mas rápido. Este o sentido.
Janot ou não a conhece ou não a segue, como ficou claro no caso Eduardo Cunha.
Sua insuportável demora em pedir ao STF o afastamento de Cunha deu uma contribuição milionária para a crise política que se abateu sobre o país.
Cunha é ligeiro demais, sem escrúpulos demais, para a baixa velocidade dos que deveriam deter sua escalada criminosa.
De tudo isso, fica para o futuro uma tentativa de resposta para uma das questões mais intrigantes de 2015: por que Janot demorou tanto para agir?
Desde que os suíços provaram a existência de contas não declaradas de Cunha na Suíça, não havia mais nenhum motivo para deixar Cunha com as mãos livres para reagir a seu modo.
Equivaleu a deixar um terrorista com uma bomba nas mãos. Coisa boa ele não vai fazer com a bomba.
A lentidão pavorosa de Janot fica sublinhada pelo documento no qual ele próprio pediu o afastamento de Cunha.
Ali está dito que, pelo menos desde 2012, Eduardo Cunha faz comércio de medidas no Congresso feitas para beneficiar empresas e empresários.
Com isso ele levantou dinheiro suficiente não apenas para enriquecer pessoalmente, mas para aliciar cúmplices em seus crimes na Câmara.
Os empresários o compraram. E ele comprou deputados que lhe garantiram aprovar o que quisesse.
Com plena liberdade para agir, ele pôde abrir o processo de impeachment que agravou extraordinariamente a crise política.
Teve aí como comparsas homens como Aécio, dispostos a tudo para promover um golpe, incluído aí fingir não saberem o tipo de gangster que estavam protegendo, afagando e estimulando.
A capacidade de manobra de Cunha se estamparia também, logo depois, nas trapaças para montar um rito de procedimento que, na prática, significaria a vitória por antecipação do golpe.
Em meio a tudo isso, ele também manobrou para torpedear os trabalhos da Comissão de Ética que poderia e deveria cassá-lo.
Destituído por artimanhas de Cunha, o relator da Comissão de Ética narrou a tortura mental pela qual passou depois que aceitou o prosseguimento do processo.
Recebeu ameaças daquelas que você vê em filmes da máfia. E tudo isso sem nada que refreasse Eduardo Cunha.
Onde estava Janot?
Em que momento, ao longo do copioso relatório que ele montou para pedir o afastamento de Cunha, viu seu grau de periculosidade? Não pode ter sido apenas ao colocar o ponto final no texto.
Você não pode dar tempo a pessoas como Cunha. Acuadas, elas são capazes de qualquer coisa. (E impõem-se aqui estrondosas vaias ao ministro Teori Zavascki por haver deixado apenas para depois do recesso do STF a apreciação da denúncia de Janot.)
Num mundo menos imperfeito, Janot viria a público, em nome da transparência, explicar por que foi tão lento.
Janot não se apressou lentamente, como sugere a ancestralmente sábia sentença romana.
Ele não foi apenas lento. Foi monstruosamente lento.