Foto|: Roque de Sá/Agência Senado
Mesmo que, por motivos óbvios, não confessem em público, lideranças da direita e da extrema direita sabem que Lula será reeleito na eleição presidencial de 2026. Seja porque o patamar de aprovação do presidente e de seu governo já se situe em uma margem confortável para governantes que buscam mais um mandato, ou pela química entre ele e o povo brasileiro, que costuma atingir seu ápice nas campanhas eleitorais, Lula caminha para o quarto mandato.
Contudo, é na renovação de dois terços dos senadores ano que vem que mora o perigo. O grande projeto do fascismo nativo é chegar, em aliança com a banda mais reacionária do Centrão, a 3/5 dos votos no Senado, ou seja, 49 senadores. Com uma bancada desse tamanho, ficarão com a faca e o queijo na mão para manietar a democracia, liquidando com atribuições constitucionais da Supremo Tribunal Federal e votando impeachment de ministros.
O próprio Bolsonaro já disse em comício que ele não precisa nem ser presidente. "Eu mudo o Brasil se me derem maioria na Câmara e no Senado", prometeu o futuro inquilino da Papuda. Bravatas de quem está fora do jogo à parte, a ameaça é real. Não podemos subestimar a força política e social dos inimigos da democracia. O neopentecostalismo, as milícias e todas as modalidades de crime organizado disseminadas pelo país, o obscurantismo, a desinformação, as big techs sem regulamentação e o baixo nível de consciência política reinante conferem poder de fogo eleitoral aos extremistas de direita.
O presidente Lula já manifestou várias vezes sua preocupação, chegando a dizer que, na próxima eleição, troca um governador por um senador. Claro que a eleição para a Câmara dos Deputados é de máxima importância, mas, pela Constituição do país, é no Senado que os golpistas enxergam a possibilidade concreta de destruir alguns pilares da democracia. Os constituintes de 1988 não podiam prever que uma onda trevosa de preocupantes dimensões iria surgir na cena política do país décadas depois da promulgação da Carta. Daí as brechas que o texto apresenta para investidas contra o regime democrático.
A única saída para o PT, aliados de esquerda e democratas em geral é transformar o reconhecimento da ameaça em ações e decisões políticas concretas visando o fortalecimento das chapas para a Senado. Não se pode errar. É essencial escolher nomes com densidade eleitoral, com prestígio político, social e popularidade. Dia desse li uma pesquisa sobre a eleição para o Senado, no Rio Grande do Sul, que mostra o acerto da tática da esquerda no estado, pois Paulo Pimenta e Manuela D'Ávila lideram a corrida com boa vantagem.
São duas vagas por estado. Será necessário convencer a ingressar na disputa figuras públicas já testadas e aprovadas nas urnas, inclusive quadros que já não se dispunham mais a exercer cargos eletivos.
Para esse mutirão, seria de bom tom atrair também gente de cabeça progressista, sem vínculo partidário, dos meios acadêmicos e artísticos, além de lideranças dos movimentos sociais e de entidades da sociedade civil.
Tempo privilegiado na propaganda eleitoral de rádio e televisão, bem como a destinação de mais recursos do fundo eleitoral, são essenciais para impulsionar essas candidaturas. Priorizar politicamente de fato a eleição para o Congresso Nacional, especialmente para o Senado, significa ir muito além da retórica de eleições anteriores, pois a causa é central para a preservação da democracia, que custou enormes sacrifícios para ser conquistada.