O voto de mais de 11 horas proferido pelo ministro Luiz Fux foi como uma espada: longo e chato. Cansou a beleza e a feiura de todo mundo e surpreendeu pela indignidade contra o Estado Democrático de Direito e contra seus pares do STF. Sem nenhum rigor ou pudor, ele negou a história — não apenas a do Brasil recente, mas do mundo. A violência contra a democracia ganhou um capítulo à parte com esse voto tão infeliz.
Foi um voto ideológico e político, uma declaração de amor à extrema-direita, um manifesto contra a democracia, com crassos erros jurídicos que não se permitiriam a um ministro da Suprema Corte do Brasil. Mas parece que ele não teve nenhuma preocupação com o rigor ao proferir o interminável voto, que rompeu com qualquer urbanidade em relação aos seus pares da Casa. Em vez de entrar para a história, votou para sair dela, com um visto para Miami.
A sensação de quem o ouvia era de tortura: uma aflitiva audiência, interminável, que foi uma homenagem à brutalidade e à estupidez. Digno de um tio do pavê e/ou de uma tia do zap, que vivem nesse mundo paralelo do terraplanismo em que suas opiniões estapafúrdias valem mais do que a ciência, mais do que o conhecimento milenar, apenas porque seus achismos seriam a representação da “liberdade de expressão”.
O voto é a consumação da vergonha alheia, ofende à inteligência humana, elaborado provavelmente usando a chamada Inteligência Artificial. Consegue simplesmente dizer que não houve 8 de janeiro e que os tais “malucos”, pela conclusão do voto, eram comandados por Mauro Cid, eventualmente por Braga Netto, que resolveram fazer uma “festa surpresa” para Bolsonaro. Vendado, ele entraria no Palácio do Planalto em 9 de janeiro e continuaria no poder.
Nada no voto do ministro Fux é digno de nota, nada. Aliás, há: poderia ser levantado que todas as nulidades acolhidas o foram no tempo errado, pois deveriam ter sido analisadas ao receber a denúncia, o que poderia ter poupado mais de 4 horas de deselegância jurídica.
Fux nos surpreendeu para pior (alguém tinha dúvida? Mas ele se superou). De alguma forma, dialoga com o bolsonarismo, a expressão do ódio político. Ele concorda objetivamente com aquelas demonstrações de incivilidade na Paulista proferidas por Tarcísio de Freitas, tal qual fazia diuturnamente Bolsonaro, quando ameaçava seus adversários, inclusive seu colega de STF, o ministro Alexandre de Moraes.
É o voto do pavor, da indignidade. Expôs os ministros e a ministra para serem vítimas das hordas selvagens da internet, o que leva à indagação central:
Por que fez esse voto?
O que decorre para a próxima questão: para quê? E desta, para quem?
Triste.