1) Como principal antagonista de Bolsonaro, Lula sai fortalecido. O cometimento de crimes contra a democracia por parte do ex-presidente e seus cúmplices, provado cabalmente no julgamento do STF, também deve contribuir para que pessoas com um mínimo de convicção democrática se afastem de vez da retórica bolsonarista.
2) Como se trata de uma patologia coletiva, o bolsonarismo não morre com a prisão de seu líder, o que deve acontecer até novembro. Ao contrário, deve ganhar força entre os descerebrados seguidores de Bolsonaro a narrativa segundo a qual ele é vítima de perseguição política por parte do Judiciário brasileiro.
3) O PL e a banda mais reacionária do Centrão vão aumentar a pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para que ele paute a votação do projeto de anistia. Primeiro incluindo na ordem do dia a urgência da matéria e depois a votação do mérito. Resta saber se Motta vai aceitar trombar com o Supremo neste momento e abrir uma crise institucional. Como firmeza e independência não são o forte do atual presidente da Câmara, tudo pode acontecer.
4) A condenação e seu impacto na mídia nacional e internacional, bem como na sociedade brasileira, facilitam a articulação do governo no Congresso para tentar barrar a anistia. Faz todo sentido o ultimato dado pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, alertando os deputados que votarem a favor da anistia que estarão automaticamente fora da base do governo, ficando alijados de qualquer influência na ocupação de espaços na estrutura do governo federal.
5) Aumentaram consideravelmente as chances de Donald Trump anunciar novas sanções ao Brasil, tanto comerciais como as direcionadas aos ministros do Supremo que votaram pela condenação de Bolsonaro. De toda maneira, pareceu um pouco abaixo do tom esperado a primeira manifestação de Trump pós-condenação, se dizendo "surpreso" com a sentença. Coube a Marco Rúbio, secretário de Estado, a reação mais contundente, voltando a bater na tecla da "caça às bruxas."
6) A vitimização de Bolsonaro será amplificada por sua família. Agora o que está em jogo é a definição de quem será o candidato da direita e da extrema direita em 2026. Enquanto Tarcísio de Freitas radicaliza o discurso contra as instituições democráticas para ser abençoado pelo bolsonarismo raiz, o clã deve insistir em lançar um de seus membros, afinal a confiança no governador de São Paulo vai só até a página três.
7) Voltando à anistia, não são poucos os obstáculos a serem vencidos para sua concretização. Um número expressivo de deputados do Centrão não concorda com a anistia ampla, geral e irrestrita defendida pelos fascistas. Preferem um texto que se limite a reduzir as penas dos condenados pela intentona golpista de 8 de janeiro de 2023, deixando Bolsonaro e demais integrantes do núcleo central da trama de fora. Caso seja aprovada na Câmara, a anistia encontraria sérias resistências no Senado. Também é tido como certo que o STF, caso provocado, vetará qualquer modelo de anistia.
8) O horizonte político está cada vez mais promissor para Lula, seu governo e o projeto de reeleição. Pesquisa Datafolha publicada nesta quinta-feira (11) - bem estranho este timing de divulgação, justamente no dia do anúncio da sentença de Bolsonaro - mostra a aprovação do governo Lula em alta, atingindo seu melhor resultado em 2025. Com o calvário de Bolsonaro e a disputa na extrema direita e no campo conservador como um todo, Lula segue favoritíssimo para conquistar seu quarto mandato presidencial.