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Minha mãe formou-se na Escola Normal de Casa Branca. Era para ter sido professora. O casamento impediu e ela exerceu sua vocação preparando filhos para a vida.
Das minhas 8 tias maternas, Clélia, Miriam, Marissa e Jane escolheram o magistério. Minhas primas-irmãs Rosa, Cristina e Terezinha também, assim como as primas de São Sebastião da Grama.
A lembrança de minhas primeiras professoras me acompanharam a vida toda, a começar por dona Nicolina, a severa proprietária da Escola 7 de Setembro. Muitos anos depois, dona Nicolina acompanhava meus pais para assistir os festivais de música que eu participava em São João da Boa Vista.
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Minha primeira professora foi dona Suzel, que casou-se com um da família Reis. Namorados, eles iam ver a lua das escadarias da Igreja do São Benedito, em frente a minha casa. Nós, moleques de futebol de rua, nos encantávamos assistindo os pombinhos. Depois, veio dona Renilda Furquim, cuja família trabalhava nos Correios. No terceiro ano, dona Mara Fraga de Oliveira. No quarto, dona Neuzinha, filha da dona Encarnação, dona de pensão em Poços.
Acompanhei, recentemente, as professoras mineiras de Guaranésia, no pior período obscurantista do país. Em pleno governo Bolsonaro, com o ódio e a revanche invadindo todos os lares, todas as praças, as professoras de Guaranésia, lideradas pela minha cunhada Ivone, saíam depois das aulas, de casa em casa, pregando a tolerância, condenando o ódio. Pelo menos lá o bolsonarismo perdeu.
Minhas duas tias, Miriam e Clélia, que se casaram com Bizons, de São Sebastião da Grama, permaneceram no magistério a vida toda, bem como tia Marissa. Tia Clélia, depois, mudou-se para São Paulo, mas fez uma escolinha na Vila Maria, que formou centenas de alunos, dentre os quais Celso Fernandes Campilongo, diretor da Faculdade de Direito da USP. Ela e a mãe de Campilongo se divertiam vendo como parecíamos, em um período em que eu também deixava barba.
Em Poços, a vocação familiar ficou com a tia Jane e, depois, com a prima Cecília, que também montou uma escola. E, pela mestra das mestras da família, a prima Terezinha Mesquita, que montou a Escola Criativa Idade.
A escola foi um experimento tão interessante que mereceu teses na Pedagogia da UFMG. E encantou até o mestre Paulo Freire, frequentador de Poços.
Na partida, Terezinha convocou uma assembleia de pais para discutir: que filhos queremos. A proposta vencedora foi da escola: queremos formar boas pessoas.
A escola aceita crianças com deficiência. Quando uma delas é matriculada, Terezinha faz uma reunião com todos os coleguinhas, para que eles ajudem a definir quais brinquedos e brincadeiras são acessíveis ao coleguinha.
As aulas de Educação Física são ministradas por um congo de São Benedito. E, nas festas de São Benedito, a escola monta seu grupo para desfilar.
Todas elas ensinam as crianças a amar o país, suas cores, suas raças, suas festas. Ainda são símbolo maior de uma nacionalidade que a financeirização teima em destruir.