São Paulo – O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto disse hoje (22) que o golpe em curso no país, com a tramitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff no Congresso, atinge não apenas a Presidência da República, mas o que chama de um projeto de país e de sociedade. “Eu acho que vivemos um momento de tentativa de retrocesso, de volta ao passado, em todos os sentidos”, afirmou.
Com o prosseguimento do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer nas eleições de 2014, e mais o andamento do impeachment no Senado, Guimarães vê a possibilidade de resgate de eleição indireta para definir o chefe do Executivo. “O TSE pode levar a uma impugnação da chapa e a uma eleição indireta no Congresso”, afirma, destacando que isso pode ocorrer entre o fim do ano e o início de 2017.
“Vamos ter uma revogação de todo o voto popular brasileiro e novas privatizações, mas não dizem isso claramente. Querem a Petrobras, BNDES, a Caixa Econômica e assim por diante”, diz o embaixador, que critica as propostas que os conservadores, aglutinados em torno do nome do vice-presidente, Michel Temer, estão defendendo para o país.
“Na economia, tem as propostas de um programa neoliberal de redução do Estado, de redução dos programas sociais, do poder de fiscalização do Estado, o que já permitiu o desastre de Mariana”, afirma, referindo-se à tragédia ocorrida no ano passado em Minas Gerais “E agora, a redução de programas de saúde e educação; vemos um retrocesso grande no programa proposto pelo PMDB. E uma cisão com a legislação trabalhista. Traz a redução de impostos para o capital, que é algo extraordinário”, acrescenta Guimarães.
O embaixador classifica o golpe em marcha como um processo “concertado”, no sentido de que envolve também a Justiça, além do Parlamento. E cita como exemplo a postura do Supremo Tribunal Federal (STF), que adiou a sessão que vai analisar a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Casa Civil.