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Fazer frente ao golpe exige somar desiguais

Mai 16, 2016

Por Nilson Lage, no Tijolaço                                                                    

 

 

 

Para uma ação política consequente contra uma conspiração bem urdida,  com imensos recursos, estruturada em dezenas de organizações empresariais, cívicas e religiosas  – essa que empurrou goela abaixo desse país gigante um governo de reacionários corruptos –, é preciso construir uma frente.

Frentes políticas incorporam objetivos comuns, de natureza concreta, sobre as ruínas de barreiras ideológicas e o esquecimento das mais sofridas mágoas.

A esquerda pensante brasileira, com visão dominantemente individualista, tem dificuldade para entender a natureza dialética das instituições – corporativas, jurídicas ou militares.

A lógica delas pressupõe a ação unitária, coesa, a não evidência dos conflitos que, no entanto, perduram. Decisões contraditórias de tribunais em instância final anulam o Direito e divisões insanáveis entre militares resolvem-se a bala: em qualquer caso, é grande a responsabilidade quando se trata de evitar a anarquia ou a guerra civil.

Não se pode, nesse caso, considerar que o todo inclui todas as partes.

Dito isso, fica evidente que a ação contra o sacrifício da maioria em benefício dos muito poucos, aliados a interesses estrangeiros globais – seja no nível em que for – deve basear-se nos princípios em que se assenta nossa identidade nacional, isto é, o discurso de pensadores que, ao longo do tempo e em diferentes circunstâncias, construíram os estatutos de nosso contrato social.

O golpe de 12 de maio apontou para a substituição do governo, mas seu resultado é a mudança radical das diretrizes do Estado; trata-se de item essencial para as forças que se agruparam para promovê-lo e nele reside seu ponto fraco, da perspectiva dos valores  consensualmente estabelecidos pelas forças políticas que, no último século pensaram o futuro da nação brasileira.

Quais eram, até agora tais objetivos nacionais permanentes? A soberania; a defesa da unidade nacional e da paz interna mediante  a gestão dos conflitos de classe e a negociação dos contenciosos históricos; relações harmoniosas e integração com os vizinhos da América do Sul e Caribe; incorporação econômica da planície amazônica com a preservação de sua riqueza e conservação das diversidades biológica e étnica; ocupação e exploração dos recursos minerais da Amazônia Azul – a extensa e riquíssima zona de exploração econômica exclusiva do Oceano Atlântico; desenvolvimento de relações com todos os povos e contribuição positiva para a paz mundial.

Resumidamente, é isso.

Ora, pela simples leitura dessa relação dá para ver que tal projeto de nação é incompatível com alguns dos itens propostos pelo governo que resultou do golpe: a entrega do pré-sal às multinacionais do petróleo; a atitude ambígua quanto à Amazônia; a desnacionalização da economia; a aliança automática com os Estados Unidos e seus sócios europeus; a parcialidade na gestão, a intolerância e o aguçamento dos conflitos internos de toda natureza; a quebra da laicidade do estado; a hostilidade com relação a países vizinhos e alianças regionais; a ampliação do poder dos cartéis econômicos e corporações de ofício – tudo isso agride o conceito de estado nacional sustentado há pelo menos 80 anos, em governos de várias tendências politicas.

Trata-se, pois, de superar divisões dentro de casa para evitar que a ocupem e destruam. Isso é conforme os interesses de todos os povos, como o nosso, para os quais a experiência multiétnica e de convívio religioso representam esperança e estímulo.

 

 

 

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