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O "furo" de Merval e a bolinha de papel

Jun 04, 2016

Por Paulo Nogueira, no DCM                                                 

 

 

Quando você acha que a Globo não poderia piorar em sua campanha pelo golpe, eis que surge Merval.

Em seu português caótico, ele invoca uma nuvem tecnológica que conteria mensagens relativas a Pasadena. Você pode imaginar Merval tentanto explicar o que é uma nuvem.

Dilma, de acordo com a nuvem mervaliana, teria pago com dinheiro sujo despesas de campanha como um novo teleprompter e sessões de beleza com um cabeleireiro.

Em sua louca cavalgada, Merval diz que este pode ser o Fiat Elba de Collor — o carro acusado de ser a prova definitiva contra o que a Globo e a Veja chamaram de Caçador de Marajás.

Mas, vistas as coisas com o devido distanciamento, o teleprompter e o cabeleireiro são o novo atentado da bolinha de papel com o qual a Globo tentou eleger Serra em 2010.

Nas redes sociais, encontrei a conversa na qual, na CBN, Merval contou a Sardenberg sua fabulosa descoberta. É tão patife o diálogo que chega a ser cômico.

Dois velhos jornalistas ludibriando o público inocente.

Sardenberg, de cara, saúda “o furo” de Merval. Merval mata a si mesmo na seguinte frase ao descrever as conversas entre as pessoas da tal nuvem: “Isso prova que, segundo este grupo, etc etc etc.”

Ora, ora, ora.

Prova que um grupo disse certas coisas. Este é o furo de Merval louvado por Sardenberg.

Transcrições de falas de Cerveró sobre Pasadena têm a mesma consistência da acusação de Merval. Numa linha, é mais ou menos assim: alguém disse que outro alguém teria ouvido que certa pessoa teria afirmado etc etc etc.

Conheço Merval há anos. Lembro de sua passagem opaca pela Veja nos anos 1980, levado por Elio Gaspari, então adjunto da revista. Jornalistas com texto trôpego como o de Merval duravam pouco naquele tempo na Veja. (Anos depois, ele retribuiu o favor a Elio ao contratá-lo, no Globo, para escrever duas colunas semanais no jornal.)

Voltei a encontrar Merval na Globo, quando fui diretor editorial de suas revistas no começo dos anos 2000, antes que a Época virasse o lixo que hoje é.

Encontrava-o nas manhãs de terça nas reuniões do Conedit, o conselho editorial da Globo comandado por João Roberto Marinho.

No Conedit, me impressionou imediatamente o duelo que Merval travava com Ali Kamel para ver qual dos dois concordava mais com JRM. Num almoço suicida que tive com um primo dos Marinhos que integrava o Conedit, disse isso e acrescentei o quanto achava ruim a falta de pluralidade do conselho.

Mas Merval, agora, se superou.

Deixo para as mulheres que comentem um trecho específico da conversa entre Merval e Sardenberg na CBN. Merval diz que Dilma pagava 5 000 reais ao cabeleireiro para ficar com aquele “cabelo bonito”.

Sardenberg, como segundo violinio, emite a certa altura um ganido de perplexidade diante da bolinha de papel de Merval. Depois, para checar se não houve superfaturamento capilar, informa que checou para ver quanto pode custar um corte nos salões mais finos. É por ali mesmo.

Se entendi bem o igualmente confuso Sardenberg, ele suspeitou que Dilma pudesse ganhar algum troco com o corte de cabelo. Paga x e cobra, para ressarcimento da despesa, 2x, ou coisa que o valha.

Enfim. Este o furo de Merval, dito a Sardenberg na CBN.

Um jornalista consagrado mundialmente, Glenn Greenwald, disse que o Jornal Nacional é a maior piada jornalística que já viu em sua carreira.

Recomendo a ele que ouça os diálogos entre Merval e Sardenberg na CBN.

 

 

 

 

 

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