Demorou quase a metade da entrevista, mas finalmente veio o lead de Dilma Rousseff, quando ela diz: “O Governo Temer é a expressão do Eduardo Cunha, é a síntese do Eduardo Cunha”.
Daí em diante, Dilma começa a abrir o verbo e passa a dizer que o impeachment é obra essencialmente de Eduardo Cunha, do qual Michel Temer é é o passageiro privilegiado.
Fala da lava Jato, onde “setores da mídia se tornaram cúmplices de vazamentos seletivos”, feitos com propósitos políticos.
Desqualifica as supostas razões jurídicas que fundamentam o processo de impeachment que responde.
E entra no essencial que o golpe desqualifica a soberania popular, de que seja o povo a escolher quem governa o país.
Alerta para o risco de ser adotar um semi-parlamentarismo ou, mesmo, a volta de eleições indiretas.
Explica que, num país de oligarquias como o nosso, o presidencialismo foi o regime das mudanças.
E que só uma reforma política e a consulta popular é a “única forma de lavar e enxaguar esta lambança que virou nosso sistema político”.
“O Brasil tem de interromper este ciclo de corrupção”, disse, mas sem destruir o sistema empresarial-produtivo, mas de punir economicamente as empresas que se envolvam em irregularidades.
“Há uma hipocrisia imensa nesta história das investigações”. E citou a vergonha da exploração da história do seu cabeleireiro.
E vem aí um trecho hilário sobre as acusações sobre as empreiteiras “pagando” os arranjos do cabelo que começava a nascer após o câncer que teve em 2009 e a “compra de um teleprompter pessoal”.
Afinal, nos últimos 10 minutos, trata do futuro.
Não há pacto possível com Temer no poder.
E que é preciso recorrer à população, em alguma forma de consulta, talvez um plebiscito.
Infelizmente, o ponto conclusivo do processo de consulta popular não foi levado adiante.
Ainda assim, o que se viu foi uma Dilma extremamente mais capacitada para dirigir um país, inclusive para os interesses econômicos dominantes que, infelizmente, têm a visão miúda do feitor.
Repercussão?
Primeira no “trendtopics” do Twitter.
E, mais importante, sem panelas.
O Brasil parece estar caindo em si.