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Entenda por que JK foi assassinado

Jul 05, 2016

Por GGN            

 

 

 

 

 

Luis Nassif entrevista no programa Na sala de visita pesquisadora que ajudou a desvendar a morte do ex-presidente 

Jornal GGN – Sim, ao contrário do que os registros oficiais da época contam, Juscelino Kubistchek sofreu um atentado. Na estreia do programa "Na sala de visita" com Luis Nassif, que você poderá acompanhar na íntegra nessa quarta-feira, no GGN, o apresentador recebe a advogada e pesquisadora da USP, Lea Vidigal Medeiros, uma das responsáveis pelo trabalho que revelou os fatos por trás da tragédia que tirou a vida do ex-presidente.  Segundo a especialista, a morte de JK fez parte de um plano bem mais amplo que promoveu antes o assassinato de sua reputação através dos grandes meios de comunicação. 
 
Juscelino morreu em um acidente de carro em 22 de agosto de 1976, na Via Dutra, enquanto saía de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro. Segundo notícias da época, estava indo ao encontro de uma amante. O veículo, um opala dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro, levou uma batida de um ônibus que vinha logo atrás e, no desvio, se chocou com uma carreta que ia em sentido contrário. 
 
O acidente ocorreu em uma área plana, em linha reta e com um carro novo para a época, pontos que suscitaram dúvidas se o ex-presidente teria ou não sofrido um atentado. Mas a conclusão do laudo oficial da época, comprada pela imprensa, foi a do acidente. Anos mais tarde o assunto voltou à tona durante a atuação de comissões da verdade para colocar luz sobre os abusos cometidos na ditadura militar brasileira. A reabertura do caso JK, em especial, ocorreu graças à atuação de Lea. 
 
 
Enquanto preparava seu trabalho de conclusão de curso sobre a importância do BNDES para o desenvolvimento Lea se deparou com o papel do banco na realização do Plano de Metas do governo Juscelino e acabou encontrando documentos esparsos sobre a morte do ex-presidente que revelavam indícios de um atentado planejado no âmbito da Operação Condor, uma aliança político-militar entre os regimes militares da América do Sul com apoio do governo norte-americano. 
 
Para conseguir informações mais apuradas que comprovassem o crime, Lea se uniu com estudantes e professores da USP e do Mackenzie para montar o Grupo de Trabalho Juscelino Kubistchek, ligado à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, que começou a atuar em 2013. Cerca de um ano depois estava pronto um relatório de quase mil páginas com a “conclusão irrefutável de que foi um assassinato”. 
 
Para começar, há provas de que o ex-presidente não foi para o Rio ao encontro de uma amante. Essa notícia foi encaixada nos fatos históricos como mais uma peça para a desmoralização da vida de JK, em marcha desde o golpe militar. Documentos trocados entre embaixadas brasileiras e norte-americanas comprovam, por exemplo, que Juscelino era monitorado pelo serviço secreto norte-americano desde 1973. Nessas cartas os americanos destacavam que ele era o político mais popular da época, com grandes chances de ganhar novas eleições presidenciais. 
 
A viagem para o Rio foi marcada para encontrar uma velha amiga e empresária portuguesa. JK pretendia fechar um negócio. “Juscelino, naquele período, estava sem um sustento garantido, ao contrário do que diziam, que tinha a sétima fortuna do mundo”. A vida política do ex-presidente estava bem agitada, há provas de que dois dias após o atentado fatal tinha um encontro secreto com generais contrários ao governo golpistas marcado com a ajuda do seu primo Carlos Murilo, que está vivo e prestou depoimento para o Grupo de Trabalho JK. 
 
 
“Ele tinha ambição de se candidatar e voltar a ser referência política para o Brasil”, pontuou Lea. Antes de ir para o Rio, JK tinha acabado de voltar de um encontro com governadores da Bacia do Prata  e chegou a ficar alguns dias na casa do jornalista e amigo Adolfo Bloch, dono da Manchete. 
 
Um ponto que ficou mal explicado na reprodução dos fatos antes da morte de ex-presidente é uma parada que fez, saindo da Dutra, no Hotel-Fazenda Villa-Forte cujo proprietário era o brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, amigo do general Golbery do Couto e Silva e um dos criadores do Serviço Nacional de Informação (SNI). 
 
Segundo depoimento do filho de Villa-Forte, Gabriel, que estava presente naquela tarde de domingo, o hotel estava vazio e o ex-presidente ficou lá por quase duas horas, depois ele e o motorista voltaram para a estrada e poucos minutos depois aconteceu o acidente. Um depoimento feito pelo manobrista do hotel, e registrado na época, destacou que o motorista Geraldo Ribeiro estranhou o carro assim que pegou para retomarem a viagem. O grupo de trabalho encontrou, ainda, registros de um jornalista que esteve no local do acidente e viu as provas do crime serem alteradas de madrugada pela perícia. 
 
A colisão com o ônibus também não teria acontecido.  “Tem fotografias revelando que a traseira esquerda do opala, onde a perícia disse que teria sido o ponto de colisão entre o carro e o opala estava na íntegra no momento seguinte da colisão, mas, no dia seguinte, a polícia fabricou outras fotos com a traseira esquerda avariada. Ou seja, a avaria do opala que serviu de causa, digamos, do acidente, foi produzida depois do acidente, em algum momento posterior”.  Lea afirmou que existem cálculos matemáticos feitos para reproduzir o acidente na época demonstrando que as provas oficiais produzidas para fechar o caso foram “primitivas” e que claramente “adulteram o local do acidente”. 
 
Antes de perder a vida, JK enfrentou tortura psicológica e assassinato de imagem. O boato de que seria dono da sétima fortuna do mundo, por exempla, foi diversas vezes espalhado em jornais da época como fruto de corrupção de dinheiro desviado da construção de Brasília. Mas a realidade de Juscelino naquela época era outra. 
 
“O coronel Affonso Heliodoro, que está vivo, contou que o visitou algumas vezes no exílio para levar dinheiro. Ele viu Juscelino contar moedas”. O entrevistador Luís Nassif também lembrou que o banqueiro e empresário Walther Moreira Salles contou que chegaram a fazer “uma vaquinha” para um tratamento médico de JK. 
 
Segundo Lea, as propagandas falsas contra o ex-presidente foram arquitetadas entre as embaixadas do Brasil e Estados Unidos. “Veículos de comunicação da época, como Jornal do Brasil, repetiam calunias e todas essas histórias falsas como se fossem verdade. Por exemplo, tinham notícias do tipo ‘saiu documentos que provam a corrupção na construção da Ponte da Amizade no Paraguai ‘, e o documento nunca apareceu, mas a notícia estava lá, repetida várias vezes até a exaustão”. JK chegou a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal que o absolveu por falta de provas quanto ao crime de corrupção. 
 
Em nenhum momento da ditadura militar a vida foi fácil para o idealizador de Brasília, em junho de 1964 o ex-presidente teve seus direitos políticos cassados, acusado de corrupção e de ser apoiador de comunistas. Exilou-se por conta própria passando por cidades dos Estados Unidos e da Europa. Voltou para o Brasil em março de 1967, se unindo a Carlos Lacerda de João Goulart na articulação da Frente Ampla, em oposição ao regime militar. O movimento foi extinto pelo regime ditatorial, levando JK à prisão por um curto período. Depois de solto Juscelino respondeu a vários Inquéritos Policiais Militares, submetido a interrogatórios que duravam horas. “Uma tortura psicológica para um senhor de quase 70 anos”, analisou Lea. 

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