O ministro Dias Toffoli, na maior cara de pau, diz que o fato de um cidadão ser investigado não o impede de exercer o cargo de ministro. Exceto, é claro, se esse cidadão se chamar Luiz Inácio Lula da Silva.

Até hoje o STF não se dignou a julgar a decisão liminar do tucano togado e sem escrúpulos Gilmar Mendes, que suspendeu a nomeação de Lula por ver no ato da presidenta Dilma tentativa de bloquear a justiça.

Por esse motivo, outro exemplo acabado de autoridade que não honra o cargo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a abertura de inquérito contra Dilma. Mas se cala diante da nomeação de sete investigados na Lava Jato pelo vampiro golpista Michel Temer.

Por se julgarem intocáveis, os ministros da suprema corte brasileira, depois da babel de omissões e decisões parciais, contaminadas pelo partidarismo mais escrachado, perderam completamente quaisquer constrangimentos de agir em defesa das causas políticas que abraçam.

A principal delas é o golpe de estado, do qual o Supremo é sócio ilustre, pois mandou às favas sua missão institucional de proteger a Constituição, permitindo que ela fosse rasgada "pela gangue de ladrões que quer destruir Dilma", conforme definição precisa do renomado linguista Noam Chomsky.

Viraram piada nas redes sociais os seguidos "sorteios" para a relatoria das denúncias contra Aécio Neves. A quem esperam convencer da lisura desse mecanismo de escolha, cujos resultados se chocam frontalmente com a lei das probabilidades ? Todas caem no colo de Gilmar Mendes, que, ato contínuo, suspende as investigações.

Fotos dos amigos Gilmar e Aécio rindo e comemorando essas patranhas circulam a torto e a direito e são vistas com naturalidade pelos demais membros da corte. Em qualquer país de democracia consolidada, comportamentos assim levariam os juízes à execração pública.

Nenhum regime democrático ao redor do planeta conviveria com uma suprema corte tão desmoralizada e avacalhada. Seus membros já teriam sido afastados em nome de preservação de uma premissa republicana básica, que é o zelo pelo texto constitucional.<

Às vezes fico a imaginar o que deve passar pela cabeça de vossas excelências ante o repúdio em uníssono ao golpe brasileiro por parte de prestigiados veículos de comunicação do mundo, de governos de inúmeros países e de renomados juristas e intelectuais. Como teriam reagido aos protestos dos artistas brasileiros no Festival de Cannes, na França ?

Logo, porém, concluo que divagações como essas são inúteis. Pelo simples motivo de que, desgraçadamente, o Supremo Tribunal Federal do meu país é uma caso perdido para a causa democrática. Serve apenas aos interesses de uma elite retrógrada e antidemocrática. Vivemos no país do "dois pesos e duas medidas". Aqui a lei está longe de valer para todos. Pobre Brasil.