Em pleno segundo mandado do então presidente Lula, em 2009, o Rio de Janeiro conquistou o direito de sediar os Jogos Olímpicos. É inquestionável que o responsável maior pela façanha de trazer o megaevento pela primeira vez para uma cidade da América do Sul foi Lula, que colocou todo seu prestígio internacional e carisma a serviço da candidatura do Rio.
Ainda na reta final de seu governo, Lula liderou as primeiras ações, basicamente nas áreas de planejamento e orçamento, permitindo a viabilização do projeto olímpico carioca. E a partir da posse da presidenta Dilma, em janeiro de 2011, o governo federal dispensaria tratamento prioritário à estruturação do Rio para os Jogos.
Seja na área da mobilidade urbana, com BRT, VLT e expansão do metrô, ou na construção ou reformas das arenas esportivas para as competições, não há um projeto sequer que não tenha contado com recursos do governo Dilma, além do incentivo e do respaldo político e diplomático. A presidenta nunca negou ser uma entusiasta da realização das Olimpíadas em nosso país.
Até que o PMDB do Rio adere ao golpe, justamente quem mais se locupletou com os investimentos federais, pois o estado durante os governos petistas liderou com folga o ranking das unidades da federação mais beneficiadas com obras, convênios, transferências, acordos e parcerias patrocinados por Brasília.
O descalabro das finanças do Rio, atualmente governado pelo interino Francisco Dornelles, mostra que estavam certas as análises que davam conta de que o governo fluminense sem a ajuda de Lula e Dilma mal e porcamente conseguiria pagar o folha salarial dos servidores. Aliás, nem essa obrigação básica tem sido honrada, já que o funcionalismo do estado está entregue à própria sorte, vendo seu salário ou ser parcelado ou simplesmente não ser pago.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, depois de ter abocanhado o máximo que pôde de verbas federais, para custear o caríssimo empreendimento dos Jogos, também traiu Dilma ao mandar seu pupilo Pedro Paulo reassumir o mandato de deputado federal só para apunhalar a presidenta no festival de horrores do dia 17 de abril. Cresci ouvindo minha mãe dizer que o pior defeito do ser humano é ser mal agradecido. Tudo bem que o prefeito não compartilhe desse valor, mas que ele saiba que entrará para a história como um reles golpista.
O usurpador Temer participar da cerimônia de abertura de uma festa para a qual ele nada contribuiu, e na falsa condição de chefe de Estado e de governo, é um escárnio, é a consagração do crime. Tivesse um mínimo de vergonha na cara, Temer rejeitaria o convite. Bem faz Dilma em se negar a comparecer em condição subalterna.
Não torço pelo fracasso dos Jogos. Tomara que tudo dê certo. Contudo, embora seja um aficionado por esportes desde menino, quando sonhava com a realização de uma Olimpíada no Brasil, tomei nojo dessa Olimpíada e pretendo ignorá-la solenemente, em que pese todo o cerco social e midiático.
O maior evento esportivo do planeta não combina com golpe de estado e com liquidação da democracia. Tampouco pode servir de trégua e tentativa de legitimação para a quadrilha que apeou do governo a presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos de brasileiros e brasileiras. Fora Temer.