Na semana passada, escrevi um artigo sob o título "No Rio, é Freixo versus trevas" sublinhando o que está em jogo na eleição para a prefeitura do município, que opõe o respeito aos direitos humanos e o compromisso democrático ao obscurantismo representado pelo bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e apoiador do golpe de estado contra a presidenta Dilma.
Mas, decorrida a primeira semana de campanha no segundo turno, sobram preocupações acerca das movimentações , declarações públicas e posicionamentos políticos de Marcelo Freixo e de seu seu partido, o PSOL. Como até os pouco iniciados nas artes da política sabem, quando um candidato chega ao segundo turno o dever de casa é agregar o máximo de apoio possível, evitando, claro, alianças que se choquem com suas convicções ideológicas e violentem frontalmente seu programa.
No caso do PSOL, no Rio, é fundamental a unidade da esquerda carioca em torno de seu candidato. Só que esquerda sozinha não ganha eleição. Por isso, era de se esperar que Freixo adotasse a tática de tentar seduzir o centro político e até o eleitorado da direita não fascista. Para isso, tinha que procurar os candidatos derrotados e dar publicidade a esses encontros. Nada disso foi feito.
E pior, Freixo foi, no mínimo, deselegante durante o debate da Band com Jandira, PT e PCdoB, que manifestaram apoio unilateral e incondicional à sua candidatura. Logo no início do debate, ele travou uma espécie de disputa com Crivella para ver quem repudiava mais o contato com os governos petistas. Ali, Freixo preferiu se curvar ao antipetismo de viés fascista disseminado na sociedade, perdendo excelente oportunidade para cativar uma militância que poderia ter peso importante em uma eleição tão difícil.
Também não foi desmentida a notícia veiculada pelas organizações globo (assim mesmo, com minúsculas) segundo a qual o candidato psolista rejeita o apoio de Lula no segundo turno, dispensando sua presença tanto no palanque quanto no programa de TV. Dilma, então, nem pensar.
A votação do primeiro turno e a primeira pesquisa do segundo turno feita pelo Datafolha não recomendam tamanha soberba, já que Freixo sofre goleada acachapante para Crivella nas áreas populares. Na Zona Oeste, por exemplo, se dá um massacre. Fazer o que se o comando da campanha de Freixo desconhece o prestígio que Lula ainda mantém em parcelas expressivas do povão ?
Logo no dia seguinte ao primeiro turno, Freixo já dera a senha para a imprensa sobre sua visão estreita e peculiar de segundo turno. Para ele, não existem alianças nesse momento decisivo da eleição, mas sim apoios. O programa do partido dele fora aprovado nas urnas, blá,blá, blá, cabendo apenas aos demais manifestar adesão.
Coerente com esse entranho entendimento, Freixo não procurou nenhuma força política ligada à esquerda, tais como PT, PCdoB, CUT, CTB, MST, MTST e as frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Esquerda Socialista. E, como dá sinais de que só quer o apoio à distância da chamada esquerda tradicional, é pouco provável que o faça. A consequência disso já se faz notar entre os militantes desses partidos e entidades. Da imensa maioria deles, Freixo terá o voto e nada mais.
Enquanto isso, em outros municípios importantes nos quais a esquerda chegou ao segundo turno, o PSOL dá show de sectarismo, sendo mais PSOl do que nunca. No Recife, o petista João Paulo enfrenta o prefeito Geraldo Júlio, da nova direita que é o PSB. Mas o PSOL recomenda voto nulo. Em Aracaju, Edvaldo Nogueira, do PCdoB, mede forças com Valadares Filho, também do PSB. Mas o PSOL decide não apoiar nenhum dos dois. Em Contagem (MG), o partido também cruza os braços diante da disputa entre Carlin Moura, do PCdoB, e o tucano Alex de Freitas.
Moral da história : começo a dar ouvidos seriamente a informações que circulam no meio político do Rio dando conta de que grupos do PSOL não consideram oportuna nem estratégica para o partido a vitória contra Crivella, pois isso significaria pôr a mão na massa, maculando o puritanismo do partido.
Mas os militantes desses setores psolistas têm poucos motivos para apreensão. Afinal, se não houver uma radical e improvável mudança nos rumos da campanha nesse segundo turno, o PSOL seguirá como vestal da política, mas longe da prefeitura.